sexta-feira, 25 de julho de 2014

Capitulo 08 : Fatae (parte 2)

Não pode esconder sua alegria ao estar em contato com o elemento que praticamente lhe deu a vida. E sentia o mesmo vindo daquele local, era como se sempre pertencesse a aquele lugar. Não sabia como ficava tão perto de um lugar tenebroso como a Floresta Negra, mas ao mesmo tempo tão distante em relação à sua calmaria. Quando por fim colocou o segundo pé no raso chão feito de cristal, pode sentir uma mudança climática. Era como se sua presença tivesse despertado algo. Ou melhor. Acordado algo. Avistou, não muito longe, um castelo feito de gelo em meio a aquele grande e branco vácuo a sua frente.

— Você consegue — Disse para si mesma. Estava nervosa. Sabia que assim que desse o próximo passo, não haveria como voltar. Ergueu a cabeça, confiante. Soltou suas asas, colocando-as para fora. Não podia olhar, mas sentia que estavam mais vibrantes, brilhosas e vivas do que jamais estiveram anteriormente. Levantou pouso e dirigiu-se até o castelo, observando do alto a paisagem radiante que em breve lhe seria dada como reino. Pousou cautelosamente em frente ao castelo.

— O que eu devo fazer? — Pensou consigo mesma. Não sabia que atitude tomar. Tinha medo de bater na porta do castelo e a mesma quebrar. Andou de um lado para o outro, a procura de uma alavanca ou algo que lhe abrisse a passagem, mas nada. Antes que pudesse gritar o nome de Elsie, os primeiros caracteres que vieram a sua mente foram os números 8, 13, 17 e 22.

— Oito — Falou, na espera de que algo acontecesse. Nada aconteceu, pelo menos por alguns segundos. Pode ouvir alguma coisa deslizar do outro lado da porta. Então, abriu um longo sorriso e continuou.

— Treze — E a maçaneta de cristal foi virada — Dezessete — As portas começaram a tremer lentamente — Vinte e dois — E por fim, as portas do castelo foram abertas. Alpha observou tudo com grande satisfação. Era um palácio mágico. Desceu os primeiros degraus de gelo e pode ouvir as portas fecharem por trás de suas asas, na qual ela sacudiu lentamente, tirando os primeiros flocos de neve que começavam a pesar naquele momento. Guardou seu par de asas e continuou descendo as escadas.

À sua frente, uma enorme piscina com uma água totalmente cristalizada. Sentiu que deveria fazer o que sua mente mandou. Continuou andando, até a borda daquela piscina. Sem muitos esforços, colocou o primeiro pé, mas não afundou. O sorriso em seu rosto pode ser notado novamente. Colocou o segundo pé e pode ver, estava em cima da água. Caminhou pela piscina lentamente, queria aproveitar aquele momento. A sensação era única. Era como se a água abaixo de seus pés começasse a fluir por todo seu corpo, lhe dando uma sensação prazerosa. De leveza. Pureza. Era o que a água fazia com ela.

Colocou seu pé no piso de gelo, sem acreditar que já havia finalizado o percurso pela água. Pode ouvir um soar de palmas por trás de sua orelha. Virou-se, surpresa. Observou uma mulher loira, de cabelos cacheados. Não cacheados volumosos como os de Flânis. Mas um cacheado curto e bem fino.

— Eu esperei por este momento durante praticamente toda a minha vida — Disse a mulher que aplaudia Alpha, que visivelmente estava tímida. Ela aproximou-se da jovem fada e lhe deu um abraço apertado. A própria não entendeu nada. Acariciou o rosto da garota com delicadeza — Tão suave quanto o meu, quando eu tinha sua idade — Disse, virando-se de costas. Alpha pode ver um xale de cor branca, cobrindo suas asas, provavelmente machucadas que caíam aos pedaços.

— O que houve com suas asas? — Perguntou preocupada com a situação da fada.

— É o tempo. Com o tempo elas começam a ficarem cansadas, já não aguentam a neve que cai frequentemente em seu corpo... Sua mente toda enfraquece. Dizem que as asas são a fonte de energia de uma fada, não o corpo em si — Observou-a se distanciar alguns passos. Alpha estava estranhando toda a situação mas entendeu o que "doente" queria dizer para as fadas. O local estava em perfeito estado. Elsie parecia ser apenas uma fada anciã. Não parecia estar doente. Parecia estar cansada e com suas forças esgotadas. Mas doente? Não era algo que poderia defini-la. "Um banho resolveria tudo", era o que ela pensava.

— Então, o que fazemos? Eu vou simplesmente ficar aqui... Pra sempre? — Perguntou, seguindo os passos de Elsie. Observou o castelo, que estava também estranho. Não havia portas, além daquela no qual ela entrou. Apenas colunas de cristais bem grandes, que davam a sensação de fortes pilares para quem visse do lado de fora — E o que é esse lugar? — Perguntou.

— Nós falamos disso quando a segunda aparecer — Disse firme, indo ao ponto exato da conversa.

— Que segunda? — Perguntou a si mesma se ela se referia a Anala, embora não tenha dito em voz alta.

— Se não estou errada, nesse ano teríamos duas rainhas coroadas... Estou errada? — Perguntou, olhando para as colunas de gelo, como se dali pudesse ver os anos que passavam — Não. Estou certa.

— Tivemos. Anala, ela morreu no caminho — Disse com cautela. Olhou bem para Elsie e podia ver que se fosse defini-la como humano, seria como uma das "mulheres exaltadas que ficam presa em uma grande casa". Não sabia o que era, mas referia-se a manicômios. Elsie tinha a aparência de uma mulher louca.

Elsie andou observando de ponta, era como se nem prestasse atenção em Alpha e sim a algo que tentasse lhe contatar. Era como se ela falasse com aquele lugar — Infelizmente eu acredito em você, garota. Você pode ouvir? — Perguntou.

— Não, eu não posso ouvir — Disse estranhando tudo — Você pode me dizer o que está acontecendo? Não que eu deseje isso, mas por quê este lugar está vivo? Por que você, ou melhor, este lugar, perdão pelo termo, não está derretendo agora? O que diabos está acontecendo?

— Então foi isso que Faye Fairy lhe disse? Que as geleiras estavam derretendo? Que eu estava morrendo? Eu estou bem viva, garota.

— E que sereias estavam atacando... E meu nome é Alpha. Alpha NiHaus — Apresentou-se. Não esperou um retorno, pois já sabia o nome de Elsie.

— Elsie Latoxx. Não há geleiras derretendo, Alpha. Não tem sereias atacando, ela inventou uma falsa guerra para lhe trazer a exatamente neste lugar. Ninguém está morrendo além da própria Queen Faye Fairy — Disse certa do que estava dizendo, deixando Alpha impressionada — E ela lhe mandou aqui. Você e a sua amiga, que não teve a mesma sorte, para que eu matasse vocês junto dela mais tarde — Disse, aproximando-se de Alpha, que deu alguns passos para trás.

— E o que você vai fazer? — Perguntou, temendo por uma resposta que ela não quisera escutar.

— Eu vou... Idolatrar a nova rainha. Seja qual for a sua função — Disse, ajoelhando-se. Certamente não iria cumprir o pedido de sua superiora e isso incomodava Alpha.

— Que tal a senhora me contar desde o início? — Pediu a fada, mais aliviada com a atitude da anciã, que estava perante aos seus pés — E não precisa disso tudo, eu sou apenas uma fada.

Elsie. A fada rainha do ar. A fada rainha da terra. E. A fada rainha do fogo se reuniam do lado de fora. Após a confusão que matou milhares, elas estavam prestes a se separarem e provavelmente nunca mais iriam se ver.

— Zeni, nós confiamos em você o nosso novo segredo — Disse a fada rainha do ar, para a nova rainha da Terra.

— Está tudo bem, Tenissa — Disse, respondendo para a rainha do ar.

— Vamos fazer um juramento — Pediu Sasha, a rainha do fogo — Iremos guardar esse segredo até que a próxima geração de cada elemento seja formada, assim não teremos que nos preocupar com as novas fadas querendo fazer modificações nas ordens da Princesa Faye Fairy e a paz irá continuar em nosso reino.

Sasha colocou seu dedo a frente, sua ponta chamuscava. Elsie botou seu dedo em seguida, a ponta do seu estava gelada. Em seguida, Zeni, na qual o dedo não poderia estar mais indestrutível. E por fim Tenissa, que passou o dedo por volta dos três demais dedos, canalizando com o ar a energia dos elementos. Mas Elsie tinha outros planos, os dedos de sua outra mão estavam cruzados, aprendera aquilo com um humano.

— Nosso juramento permanece vivo até que a última de nós, Zeni, seja substituída. A fada que quebrar este selo sentirá o peso dos quatro elementos até seus últimos dias de vida — Disse a fada do ar. Os elementos então, juntaram-se num só e transformaram-se em pingentes, que foram colocados no pescoço de cada uma ali. Elas sorriram.

— Zeni, quando formos descoroadas, nossos pingentes se quebrarão. Isso significa que a energia que está em um, passará para o outro. Você como será a última, terá as quatro energias em um só objeto. Essa energia no futuro será muito perigosa, pois não será a mesma energia que temos agora. Nossa energia será conhecida como ancestral pelas futuras fadas da alta classe e poderá ser de ambição para futuros inimigos. É seu dever protegê-lo e escondê-lo em um lugar que ninguém, nem mesmo nós, saibamos da existência.

— Tudo bem — Aceitou o pedido, um pouco nervosa.

Tirou o xale, que cobria seus ombros e revelou então, por baixo de sua blusa, o que ela realmente escondia. O pingente de cristal na qual ela contava.

— Esse não é o pingente da história — Disse, surpreendendo Alpha — É um falso para enganar Faye Fairy. O verdadeiro eu escondi em um lugar que ninguém mais poderá encontrar.

— Então... O selo foi quebrado? Você obviamente continua aqui, e isso significa estar uma ou duas gerações a mais do que você deveria estar — Tinha mil perguntas em sua cabeça e queria a resposta para todas.

Após a descoroação de Sasha, era a vez de Elsie ser destronada. Porém, para ela, o tempo que passara como líder era pequeno demais. Além disso, a cada dia sentia-se melhor na Arena do Gelo, era seu lugar e não iria deixar mais ninguém tirá-lo.

Saiu da sala de Queen Faye Fairy, após ter contado tudo sobre os pingentes. Agora fizera um novo pacto. Poderia ser a rainha da água para sempre, caso trabalhasse para Queen Faye Fairy e posteriormente, destruísse o pingente.

— Depois daquele dia, tudo foi diferente... Eu nunca pude compreender a água da forma que eu compreendia. Nunca me sentia tão leve tocando-a quando me sentira anteriormente. Eu não sabia que aquele pacto dos elementos seria algo real. Achei que fosse simbólico.

— E o que aconteceu com as outras rainhas da água? — Perguntou, imaginando já a resposta que viria.

— Eu as matei usando o pingente. É óbvio, Queen Faye Fairy fez parecer um acidente. Foi difícil calar as demais, mas até isso conseguimos. Uma ameaça aqui e outra ali e elas ficariam de bico fechado.

— E o que impede você de me matar agora? — Perguntou Alpha. Não temia mais Elsie, sabia que ela estava esgotada, se a história fosse mesmo verdade.

— Quando você e sua amiga foram coroadas as rainhas da água, houve uma coisa que Faye Fairy não lhe avisou. Esse não era o ano apenas do elemento água. Esse era o ano do elemento água e da nova rainha Fatae, ou o que chamam de "Fada Rainha do Espírito Real". O que acontece de três mil em três mil anos.

— O que? Não pode ser — Estava surpresa.

— Se sua amiga estiver realmente morta, o que eu duvido, o poder passa então para a fada do elemento atual. No caso da Rainha Fatae, passa para Faye Fairy.

— O que você quis dizer com "eu duvido"? — Não havia sequer prestado atenção nas outras partes, o que lhe importava mais era saber que Anala estava viva.

— Há uma chance... Não muito grande dela estar viva. Faye Fairy esperaria por mim, levando você e ela, caso sobrevivesse, para serem executadas. E então mataríamos as duas juntas. Adquirindo o poder de ambas. Mas... — Suspirou.

— Mas... ?— Indagou.

— Eu estou cansada dessa vida. Eu não quero mais sentir aqueles elementos dentro de mim. Eu não quero poder. Poder não é algo bom. Ele destrói você. E você só percebe isso quando está tarde demais — Disse com um tom mais baixo, quase mudo, mostrando-se arrependida de tudo que fez — Então eu quero deixar as coisas do jeito que elas deveriam ser. A fada rainha da água sendo a fada rainha da água e a Fatae sendo a Fatae.

— Eu estou surpresa, Elsie... Você... Eu não sei, você cresceu. Você é uma boa fada — Disse, dando um abraço na fada anciã, que se surpreendeu — Então, o que fazemos? O qu... — Foi interrompida por Elsie que se movimentou bruscamente perto dela, lhe colocando um dedo em sua boca, para que ela não fizesse mais sons. Alpha entendeu que a mesma queria que ela escutasse algo, então concentrou-se ao lado da fada. E finalmente, pode ouvir o som da água. Não das ondas que eram provocadas pelas rajadas de frio, mas de cada particula mínima de hidrogênio e oxigênio que continha naquela piscina. E por mais que achasse estranho, poderia compreendê-los.

— Repita, querida. Repita — Pediu Elsie.

— D... — Usava o máximo do seu esforço para escutar o que a água queria lhe dizer, pode então, compreender um novo código — Dez — Falou por fim. Mas não parou por aí — Quinze. Dezoito. Vinte. Vinte e Quatro. Vinte e Cinco. Vinte e Nove... — Dizia rapidamente, podendo ouvi-los agora com grande facilidade. Sentiu algo dentro de si querendo sair. Um impulso enorme que ela não conseguia controlar. Pulou nas águas da piscina, para a felicidade de Elsie.

As águas começaram a borbulhar. Alpha ficou ali, no centro, observando tudo aquilo. Os tons começavam a mudar, do branco e claro cristal, foram ganhando uma tonalidade mais azul claro, e esse azul foi crescendo e se espalhando por toda a água até atingir seus tons mais escuros. Então, Alpha afundou, caindo com tudo dentro da água e sendo preenchida por todo o espírito daquele lugar.

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O mesmo espírito que a afundou, a trouxe para cima. Não havia mais aquela piscina e pode então, perceber que não havia mais castelo. Apenas o grande e branco vácuo. Pode também ver, Elsie caindo de joelhos ao chão. Observou bem e pode ver as asas, sua fonte de energia por fim, se dilacerando. Ela estava morrendo.

— O que aconteceu? — Perguntou surpresa.

— Você agora é a rainha da água... — Estava com dificuldade para falar, mas ainda tinha muito a dizer, então respirou por alguns segundos antes de continuar — Mesmo que você seja a Fatae, se sua amiga estiver morta, você também será responsável por este local... — Alpha sentou no local e a acariciou, colocou a cabeça da mesma sobre seu colo e a viu ir embora aos poucos. Observou o pingente no pescoço da anciã.

— O pingente verdadeiro. Era este castelo, não era? — Perguntou, ligando uma coisa com a outra. Não obteve uma resposta com palavras, mas com um gesto feito por Elsie com a cabeça. Ela estava em lágrimas — E qual é o segredo? Por quê tudo isso está acontecendo, Elsie?

— Ela vai estar em seu castelo, uma espécie de porão... Você precisa fazer algo... Por favor... Detenha Queen Faye Fairy, nosso reino precisa de alguém melhor... — Disse, emocionada. Esperava aquilo por uma eternidade. Foram as últimas palavras que ela conseguiu dizer. Apenas dormiu cantarolando um tom que era bastante conhecido pelos humanos, pelo o que Alpha lembrava.

— ...O frio nunca me incomodou mesmo — Disse Alpha, finalizando a canção cantarolada por Elsie, que desapareceu no ar, como se nunca estivesse existido. Alpha viu apenas o pingente jogado ao solo gelado. O pegou. Obviamente tinha ideias em sua mente. Ouviu os gritos de uma banshee ecoarem, anunciando a morte de Elsie.

— Eu espero que este lugar não derreta enquanto eu estiver fora — E levantou-se, determinada, colocando o pingente em seu bolso. Ergueu suas asas, mais fortes, vivas e radiantes do que nunca. Levantou voo e de longe, de bem longe observou o castelo real. Era aquele seu destino e não iria poupar forças para chegar lá e manter seu novo reino a salvo. Com toda a força que pode, seguiu em frente.

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