domingo, 29 de junho de 2014

Capitulo 03 : Sentimentos

Já tinham passado por várias árvores e arbustos, parecia que o bosque não tinha fim. Seu reino já não era possível ser visto mais e o cansaço bateu.

— Parem! Anala gritou — Já chega! — Dessa vez estava suplicando. Sentou-se no tronco de uma árvore e foi observada por Alpha e Dioniso — O que foi? — Perguntou encabulada.

— Por quê você simplesmente sentou? — Alpha não havia gostado da decisão de Anala, estava tão cansada quanto ela, mas nem por isso havia parado. Sentiu que a fada era acomodada demais e isso a perturbava.

— Por quê eu estou cansada — Respondeu o óbvio.

— E nós não estamos? — Agora foi a vez de Dioniso entrar na conversa.

— Alpha, por quê nós não vamos simplesmente voando? — Disse ignorando o elfo, estava começando a provocá-lo.

— Você sabe o caminho? — O elfo não deixou Alpha responder, apenas caminhou em direção da fada de traços azuis e se abaixou olhando em seus olhos.

— Não, orelhudo, eu não sei o caminho — Respondeu com raiva, odiava ser encarada.

— Você ou ela consegue me carregar?

— Não! — Respondeu, agora fugindo dos olhos do elemental. Estava visivelmente aborrecida e não gostava de admitir que estava errada.

 — Então é a pé que nós vamos mesmo! — Levantou-se e estendeu a mão para a fada, que agarrou em sua mão e se levantou também — Vamos, tem um riacho perto daqui, podemos passar a noite perto dali sem nos desidratarmos — Disse o elfo, finalizando.

Ao passar uma árvore, viram algo que jamais tinham visto em suas vidas. Cabanas construídas dentro de cogumelos gigantes eram vistas atrás de um pomar farto.

— O que é isso? — Alpha perguntou fascinada.

— É aonde eu moro, digo, morava — O elfo respondeu.

— E por quê não mora mais? — Alpha adorava fazer perguntas.

— Os mais fortes de nós precisam prestar favores à rainha Faye Fairy — Ele disse.

— Fortes... — Anala riu baixo. O rapaz era magro demais para o que ela considerava "forte".

— Ser forte não se resume a tamanho, e sim a habilidades que aprendemos durante nossa vida.  — Ele virou-se com raiva olhando para a fada, já não estava mais aguentando e aquilo era só o começo. Foi puxado por Alpha que o tentou tranquilizar.

— Não ligue para Anala, continue me falando sobre este lugar. O que é? — Estava curiosa.

— Assim como vocês tem o reino das fadas, este é o reino dos gnomos, duendes e elfos, seres que trabalham para a terra, também é o lugar aonde a fada rainha do ar habita. Vai dizer que nunca soube da existência?

— Não, ninguém me falara, tudo era limitado ao nosso campo, o castelo e a cachoeira, que já eram grande e limitados o suficiente — Disse. Estava deslumbrada com aquila paisagem.

— Vamos, temos muito a fazer.

— E o rio? — Perguntou Alpha ao ver que Anala estava praticamente se arrastando.

— Já estamos chegando, ele respondeu — Observou um outro elfo rapidamente — Já volto! — Disse com pressa, e foi atrás dele.

— O que você achou disto? — Alpha sabia que Anala estava sofrendo com a caminhada, queria distraí-la do cansaço que ela estava sentindo.

— Não faz diferença, só devemos voltar aqui daqui a 900 anos mesmo — Anala disse, não tinha esperanças de voltar pra casa.

— Na verdade uma de nós vai voltar pra casa para trazer Elsie — Disse, tentando dar esperança a Anala.

— Eu que não vou ser, já estou cansada o suficiente por uma caminhada de ida, imagina de volta.

— Voltei! — Dioniso trazia consigo um mapa e uma mochila para a viagem.

— O que é isso e com quem você foi falar? — Perguntou Alpha.

— Suprimentos. E aquele era meu irmão, tive que avisar a ele aonde iria — Explicou. Então, vamos?

— Vamos — Elas responderam.

Passos apressados eram ouvidos, alguém certamente estava fugindo, ou correndo, ou estava totalmente desesperado. O corredor parecia infinito para quem o seguia, até que em um momento acabou esbarrando em alguém que vinha da direção oposta.

— Você não olha por onde anda? — Exclamou o elfo que havia levado uma pancada.

— Como se atreve? — Queen Faye Fairy questionou, raivosa, era ela que passara pelo corredor.

— Desculpe, rainha! — Ajoelhou-se como forma de respeito. Ao ver o vestido da rainha, percebeu que algumas manchas escuras ali estavam. Ao subir seus olhos conclui que não eram manchas e sim sangue, que também estavam nas mãos da fada.

— O que houve? Está tudo bem? — Perguntou preocupado.

— Comigo está tudo ótimo — Pareceu convincente em suas palavras.

— Então de quem é esse sangue? — Sabia que a rainha não lhe devia satisfações, mas sua curiosidade era maior. Ele apenas obteve um olhar de fúria como resposta.

— O que você fez? — Sabia que algo estava errado.

— Eu fiz o melhor para o nosso reino! Agora saia daqui, elfo intrometido! — Disse dando as costas para o elfo e logo saiu. O elfo ficou ali, pensando o que ela teria feito, provavelmente capturado uma sereia, mas teria a rainha a matado?

— Chegamos! — Disse Dioniso, observando o lindo e puro rio. Com a noite chegando, suas águas escureciam, o que tornava a sua visão mais bonita ainda.

— É maravilhoso! — Alpha estava adorando a viagem, adorava conhecer novos lugares e pessoas, estava fascinada com aquilo tudo ao seu redor — Vocês se importam se eu entrar na água?

— Não — O elfo respondeu. Anala respondeu sinalizando com a cabeça, estava cansada e logo sentou no gramado perto de uma árvore, estava feliz por ali não ter pedras que provavelmente machucariam suas asas.

Alpha tirou seus calçados, colocou o primeiro pé na água para ver se estava fria, mas surpreendeu-se ao sentir a água morna. Não quente, morna. Estava na temperatura ideal. Entrou definitivamente na água e ali nadou. Não estava tomando banho, tampouco matando sua sede. Estava entrando em contato com o elemento. O seu elemento. A lua refletia na água, era um momento mágico e único em sua vida.

Dioniso observava Anala dormir. A fada azul estava tão cansada que já havia caído no sono sem que ninguém percebesse. Ele fazia uma fogueira para quando a madrugada caísse. Não alta para que a vegetação não pegue fogo, mas volumosa o suficiente para aquecê-los.

Foi surpreendido por gotas de água que apagaram o fogo que ele estava fazendo. Alpha havia saído da água e estava chacoalhando suas asas.

— Desculpa! — Pediu imediatamente ao ver o que aconteceu.

— Não tem problema — Ele disse com um sorriso no rosto e continuou o trabalho. Não demorou muito e logo conseguiu o fogo. Abriu sua mochila e pegou uma pequena barraca.

— Me ajuda a montar? — Pediu.

— Claro! — Alpha respondeu com um sorriso no rosto. Estar naquela água pura tinha lhe dado um novo sentido a sua vida, então não mediu esforços ao montar a barraca magicamente.

— Uau! — O elfo disse surpreso — Você é boa nisso! — Elogiou.

— Obrigada! Você também é bom como elfo! — Disse rindo.

— Obrigado! Você acha que ela se importaria se eu a colocasse lá dentro? — Perguntou olhando e falando a respeito de Anala.

— Não, faça.

— Ok! — Ele se dirigiu até aonde a fada dormia. A pegou em seus braços e a levou para a barraca, teve cuidado na hora de entrar pois não era tão alta, e ali a colocou. Anala não sabia o que estava acontecendo, abriu os olhos ainda com bastante sono e ao ver o rosto do elfo simplesmente bufou.

— O que você está fazendo? — Perguntou.

— Te colocando pra dormir — Ele respondeu.

— Se você quer uma desculpa pra me levar pra cama é só falar! — Disse, atrevida, estava cheia de sono e sequer se dera conta do que acabara de falar. Virou para o lado e voltou a dormir, deixando o elfo com um sorriso sarcástico no rosto. Ele ficou ali, parado e olhando para fada.

— Tudo bem aí dentro?  — Alpha perguntou devido a demora que ele teria para voltar.

— Sim! — Respondeu, saindo posteriormente. E logo saiu dali de dentro.

— Pode dormir também! Eu fico aqui mantendo o fogo aceso — Ele disse super gentil.

— Não vai ser um problema pra você? — Alpha também estava cansada, embora não demonstrasse, porém, não queria que o elfo se "sacrificasse" por ela.

— Não, está tudo bem, já fiz caminhadas mais pesadas que esta!

— Ok, então — Despediu-se do elfo com um abraço, entrou na barraca e deitou virada de costas à Anala. Ficou pensando em tudo que acontecera naquele dia. O momento em que Lyr lhe acordou com um balde de água. Quando entrou na cápsula da coroação. Quando encontrou o tritão na cachoeira. E quando entrou na água mais pura que já conhecera um dia. Tudo estava ligado a seu elemento e ela gostava daquela sensação, se sentia tão pura quanto a água. E com esse sentimento adormeceu.

— Alpha, levante! Temos que ir! — Dioniso cutucava a fada, que abriu os olhos ligeiramente. Ainda estava com sono.

— Ei. Tudo bem, me dê alguns minutos! — Ela pediu, tendo uma resposta positiva. Espreguiçou-se colocando seu belo par de asas prateadas pra fora, quase alcançando o topo da barraca. Saiu para o lado de fora.

— Veja quem acordou — Anala falou sarcástica.

— Dormiu bem? — Dioniso perguntou. Era educado demais e isso deixava Alpha admirada.

— Melhor do que nos últimos dias — Disse com um último bocejo. Vamos?

— Espere, vou desmontar a barr... — Foi pausado por Alpha que desmontou a barraca magicamente, tão rápido quanto a montou. Algo provavelmente aconteceu na noite anterior, pois Alpha jamais usara seus poderes para coisas tão simples.

— Você sabe que... — Anala ia dar um sermão em Alpha, mas foi interrompida. Pela primeira vez ela estaria certa.

— Eu sei, vamos deixar a regra das fadas pra lá e vamos poupar nossas forças, pois temos muito o que fazer ainda.

E voltaram a sua caminhada. Caminharam e caminharam. Caminharam quase tanto o quanto caminharam na noite passada.

— Você já foi pra lá? — Alpha perguntou.

— Arena do Gelo? Já sim — Ele disse, convencido, parecia que conhecia o reino inteiro com a palma de sua mão, e realmente conhecia.

— E como é?

— De gelo — Disse rindo — Mas é bonito. Tem lugares em que é totalmente feito de cristal! Sem contar o... — Percebeu que iria falar algo e parou, as meninas também perceberam que ele parou de falar repentinamente.

— "O" o que? — Perguntaram juntas.

— O 8-13-17-22 — Respondeu, porém, pela reação das fadas percebeu que nada tinha adiantado. — Oh! — Disse surpreso — Vocês ainda não sabem.

— Sabem do que? — Alpha perguntou.

— Eu não posso dizer. Quando vocês chegarem lá vocês vão saber.

— Até lá eu já vou ter esquecido desses números — Disse Anala revirando os olhos, odiava sentir curiosidade.

— Você não vai, acredite em mim.

Continuaram caminhando, até que sem querer sentiram um sentimento estranho, parecia que elas tinham sido empurradas, mas aconteceu apenas com elas, o elfo estava normal, e não estranhou, já sabia do que se tratava.

— Atravessamos a fronteira — O elfo disse.

— Vazio — Disse Alpha.

— O que? — Ele perguntou.

— Está tudo vazio, eu não sinto absolutamente nada! Eu não sabia que deixar um humano pra trás proporcionaria isso — Disse visivelmente abalada. As palavras de Queen Faye Fairy vieram a sua cabeça. Ela tinha acabado de passar a posse de seu humano para outra fada. Não iria mais cuidar dele.

— Normalmente o humano que você cuida possui a mesma personalidade que você. Quem você é, vem dele — Disse sábio — É mais do que normal você estar se sentindo assim — Disse tentando confortá-la.

— Bem, eu estou ótima! — Disse como se ignorasse o sentimento de repulsa que sentira. Também não estava bem, mas não demonstrava.

— Eu duvido — O elfo falou.

O canto dos pássaros poderia ser ouvido a distância, pois o lugar que eles estavam não havia algum barulho. Nenhum vento soprando. Nenhuma folha caindo. Parecia que a natureza toda havia parado para escutá-los e foi ao som de uma melodia triste de um grupo de rouxinóis, que Elvis observava o limite entre a cachoeira e o bosque, escondido atrás de uma pedra, na espera de alguém.

— Vamos, apareça — Estava impaciente, pois já estava ali a um tempo, e não obteve os resultados desejados.

Quando sentiu o sentimento de culpa e falha lhe preencher. Virou as costas e mergulhou na água, deixando o local que agora voltava à sua rotina com o início do barulho de sua cauda batendo na água.

Dioniso terminara de montar o acampamento, desta vez não tinha deixado Alpha usar seus poderes e Anala tinha concordado. Era uma vitória de dois a um e ela teve que aceitar, porém, se voluntariou para montá-lo, enquanto a fada dos traços azuis cuidava do fogo.

— Ela está triste — Dioniso sentia a tensão vindo de Anala.

— Eu sei, mas não há nada no qual possamos fazer — Disse ela, pela primeira vez pessimista.

E terminaram a barraca juntos.

— Vá dormir, você precisa descansar.

— Tudo bem — Respondeu sem contrariar, estava mesmo cansado mais do que qualquer um ali, precisava de forças para seguir a caminhada do dia seguinte, pois eles entrariam na floresta negra.

Alpha dirigiu-se até Anala quando viu o elfo entrar na barraca para descansar. Sentou-se perto da colega e não disse uma palavra, queria respeitar o silêncio da mesma.

— Ele era um astro do rock — Falou Anala repentinamente, estava com um semblante triste embora tentasse ocultá-lo. Não queria parecer frágil.

— Aquele gênero de música dos humanos? — Perguntou.

— Sim.

— Eu não gostava muito, achava barulhento — Disse com um sorriso no rosto.

— Eu também não, mas acabei me acostumando. Depois que o sucesso foi embora ele entrou em decadência, vivia se lamentando. Tentei ajudá-lo várias vezes e nada. Eu fracassei com ele — Disse, sentindo-se culpada — Deve ser por isso que fui substituída.

— Não! Você não fracassou! Se tivesse fracassado teria saído daquela cápsula. Teria perdido a respiração! Você e eu Anala, fomos escolhidas pelo destino — Disse confortando-a.

— Como o destino pode ser irônico, Alphace — Disse ainda no mesmo tom de voz.

— Irônico, mas temos que aceitá-lo. É o destino e não podemos mudá-lo. Venha, vamos dormir.

— Pode ir que eu já vou.

— Tudo bem.

Alpha levantou-se e foi para a barraca dormir. Anala passou alguns minutos diante do fogo e depois entrou na barraca também. Era madrugada, tudo estava escuro. Era como se a Floresta Negra já tivesse chegado, pois a sensação do mal dominava o fim do bosque. Alpha levantou imediatamente, assustada ao sentir arrepios. Saiu do lado de fora e sentiu o clima tão pesado quanto ela imaginara. Iria voltar para cabana, quando ouviu um grito fino e longo ecoando, e ecoando, e ecoando. Agora, ela estava tão gelada quanto a noite. Olhou pra trás e viu Dioniso, que acordara com o eco dos gritos.

— O que é isso? — Perguntou gelada.

Foi possível ouvir o grito novamente, tão longo quanto o anterior. E ecoando, e ecoando...

— Banshees — Respondeu o elfo.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Capitulo 02 : O Pacto

— O quê? — Disseram Alpha e Anala ao mesmo tempo, em sintonia.

— Sereias — Reafirmou Faye Fairy, dando alguns passos a frente.

— Achei que tivéssemos uma espécie de acordo com elas, não mexeriam conosco se não o fizéssemos — Disse Anala, em dúvida.

— Certamente elas não cumpriram com sua parte — Faye Fairy falava em um tom misterioso.

— E qual era esse acordo? — Alpha perguntou.

— Há mais ou menos 9 coroações eu fui nominada rainha, foram épocas difíceis. As sereias tinham matado minha mãe, que era a rainha anterior, pois ela tinha matado a esposa do King Dart El Seiren Ohoious Oyster Habour Aestos Capenus.

— Por quê um nome tão cumprido? — Anala interrompeu.

— Sereias e Tritões possuem no mínimo 5 nomes, eu não sei o motivo. Mas dando continuidade... Minha mãe tinha o sonho de casar com o King Dart, eles eram apaixonados, cresceram juntos e ela era a Fada Rainha do Espírito Real, assim como eu, então ela controlava os cinco elementos, podia ir as águas e voltar quando quisesse. Mas a traição do King Dart foi descoberta, e quando isso aconteceu os seres elementais entraram em guerra. Depois a paz foi selada, após o desperdício de muito sangue. Depois do casamento e a paz entre os seres elementais, eu percebi que o King Dart queria muito mais do que o coração de minha mãe. Ele queria o Império todo para si. Então, no dia da coroação da nova Fada do Espírito Real, minha mãe foi envenenada misteriosamente e eu não tive problemas em apontar o que achava que realmente havia acontecido. Ninguém podia confiar em ninguém. Gnomos confiavam em gnomos. Sereias em sereias. Fadas em fadas. Cada espécie lutando pela sua sobrevivência. Até que um dia eu pus um fim nisso tudo. Resolvi fazer um acordo com o King Dart, estava cansada de morte, não podia sequer prestar luto à minha mãe pois tinha uma guerra do lado de fora acontecendo... Então fizemos esse pacto de paz. Sereias e Fadas jamais iriam se cruzar novamente para o bem das duas espécies.

— É esse o motivo delas nunca aparecerem por aqui? — Perguntou Alpha.

— Sim, é exatamente esse o motivo. A sereia que o fizer é banida de seu território, tendo que viver nas águas geladas da Arena de Gelo, ao lado das piores criaturas aquáticas existentes — Ela respondeu firme.

— Bom, nitidamente algo aconteceu — Anala odiava aula de história — Então vamos focar mais no presente do que no passado, por favor?

— Sim, minha cara! Desde então o King Dart foi o único a reinar os mares. Ele criou quatro filhos tritões sozinho, nenhuma filha sereia. Mas há poucos anos, surgiu uma sereia chamada Morgan cujo os sobrenomes vocês não devem estar interessadas, mas esta sereia foi a única em anos a conseguir conquistar o coração do King Dart, e um homem, ou melhor, meio-homem apaixonado pode fazer loucuras.

— Então essa tal Morgan simplesmente estralou os dedos e resolveu nos atacar? — Alpha ainda achava estranho o fato disso estar acontecendo repentinamente.

— Morgan não é uma sereia genuina, Alpha — Falou, deixando mistério no ar.

— O que isso deveria significar? — Perguntou.

— Sereias genuinas são as sereias que nascem a partir de uma relação com tritões. Já Morgan é uma sereia mista. Ela nasceu a partir de uma relação de uma sereia com um outro ser marinho, podendo ser um cavalo-marinho, também chamado Barbouri, mas também existe a possibilidade de uma sereia ter se relacionado com um Schorck.

— O que é isto? — Alpha perguntou, com o medo em seus olhos, ela já sabia a resposta.

— Exatamente o que você está pensando. Metade homem. Metade tubarão.

— Então... Qual a diferença de um pra outro? Pra mim a sardinha vem na mesma embalagem! — Anala não poderia perder a piada, o que deixou sua superiora irritada.

— Anala, você acha que estamos para brincadeiras? — Disse colocando-se de frente à fada das cores azul — Você quer saber qual a diferença de uma sereia para a outra? Ótimo. Uma sereia genuina é inútil a nós. Ela pode seduzir humanos e transformá-los em pedra, tais como dizem as lendas. Uma sereia Barbouri tem os mesmos poderes, porém, limitados à sua própria espécie... Uma sereia Schorck? Não há regras. Ela pode fazer o que quiser e com quem quiser. Essa é a diferença — Terminou irritada, voltando à sua posição anterior.

— Então se uma sereia tão poderosa assim pode nos dominar, por quê não atacar simplesmente? Por quê preferem atacar a Elsie? — Alpha continuou com as perguntas.

— Porque se a Fada Rainha da Água estiver doente, então nenhuma fada além de mim, possui controle do mar — Falou, tentando se explicar.

— Diga a verdade, Queen Faye Fairy! Algo está errado! — Alpha sentia dentro de si que aquela não era toda a verdade.

— A verdade pode doer. Mas se você quer saber, Alpha. O plano delas é atacar quando vocês duas estiverem longe, isso deverá ocorrer nas próximas semanas, que é quando vocês partiriam, mas descobrimos e por isso vocês estão sendo enviadas agora. Teremos uma de vocês aqui, e uma de vocês lá, pra quando elas chegarem, termos controle dos dois lados. Não era esperado ter duas Fadas Rainhas da Água, mas a situação veio em boa hora, então vocês irão juntas e a que voltar irá trazer Elsie consigo.

— Por quê uma de nós terá que ficar por lá? — Perguntou Anala, desta vez estava tão curiosa quanto Alpha.

— Por quê se eles ameaçarem nosso reino, a que estiver lá irá ameaçar congelar todo o oceano, assim, acabando com toda a vida marinha que há — Não teve misericórdia em suas palavras — Só assim elas nos deixarão em paz pra sempre.

— Isso é tudo? — Perguntou Alpha, um pouco aflita com a resposta.

— Você é esperta. Mas sim, isso é tudo. Vocês têm duas horas para se despedirem de seus familiares. Estarei esperando vocês na entrada do castelo real, com um guia que irá levá-las até a Arena de Gelo.

Toc. Toc. Toc. Bateu três vezes em uma porta de madeira. Alpha estava com os olhos cheios de água, antes mesmo de sua mãe abrir a porta e vê-la tão jovem e brilhante quanto ela jamais esteve. Foi recebida por um abraço apertado que quase chegou a esmagar suas asas.

— Calma, mãe! — Respirou aliviada, ao soltar-se dos braços da mãe.

— Você está tão bela, Alpha. — Ela disse com um sorriso no rosto, estava orgulhosa da filha.

— Você também ainda dá um caldo, mamãe! — Disse ela rindo.

— O que isso significa? — Questionou.

— É uma gíria que os humanos costumam usar, vai entender, não é? Mas e as coisas, como vão?

— Na mesma desde que você partiu. E agora parece que você irá partir pra sempre, não é? Estamos sabendo das novidades já. Quem diria, a minha filha, uma rainha... — Disse, um pouco triste por perdê-la "pra sempre" mas ainda orgulhosa.

— Eu não estou partindo pra sempre! Jamais! Fui escolhida, não era o que eu queria, mas preciso honrar nosso povo. Mãe, pode ter certeza que eu vou voltar! — Ela falou, sabia que não poderia voltar, mas tentava dar esperança a sua mãe que só tinha o marido como companhia — Aonde papai está?

— Ele foi no bosque comprar alguns frutos.

— Eu não posso esperar, mãe, tem algo sério acontecendo e precisam de mim. Diga a ele que eu o amo.

— O que está acontecendo, minha filha? — Perguntou, preocupada.

— Nada que você deva se preocupar. Iremos lidar com a situação. Já falei com a Lyr, ela virá todo dia te ver e te ajudar em alguns serviços. Eu preciso ir! — Disse as últimas palavras em um tom triste, como se fosse para nunca mais voltar.

— Tudo bem, filha, mas saiba que em meu coração eu sempre estarei te esperando! — A mãe, por sua vez, não poupou as lágrimas e começou a chorar. Ela ergueu os braços novamente e deu um abraço forte e longo na filha.

— Nos vemos em breve! — Ela foi embora.

Alpha caminhava por cima de pedras, logo sentiu a água lhe tocar, estava visivelmente andando até a cacoheira. Limpou os olhos encharcados de água, não queria chorar na frente da mãe e a imagem da despedida ainda era forte em sua mente. Tentava manter-se forte, embora soubesse que aquela era a última vez que a veria. E pior, nem pode se despedir do pai. Alpha sentou-se em uma pedra maior, mas não por muito tempo, percebeu que não estava sozinha.

— Quem está aí? — Perguntou assustada.

Ouviu as batidas de algo na água, certamente uma sereia estava por ali. Observou bem o local e avistou, a alguns metros um jovem tritão de cabelos, cauda e olhos tão negros quanto a noite que começava a cair, um rapaz bem bonito e charmoso. Porém, esta não era a primeira vez que eles se encontravam, ela já havia o visto ali em outros momentos, mas nunca tinha sequer trocado uma palavra com ele, exceto pela vez que ela se apresentou e ele como sempre, deu a cauda como resposta.

— Ei! Volte aqui! Me diga seu nome! Me diga o porque isso está acontecendo! — Não recebeu nada além de batidas de cauda na água, ele estava indo embora. Já ficara irritada com a situação, não era de agora que o rapaz a ignorava. Porém, não iria perder a chance.

— Fada da água, ok? É isso que eu sou? — Falava consigo mesma — Então vamos ver o que posso fazer! — Tirou seus calçados e pulou na água, mergulhou na mesma profundidade que o tritão estava, até vê-lo por completo. Começou a persegui-lo embaixo da água, porém, ele era rápido demais, jamais teria visto algum ser com uma velocidade daquela forma. O tritão seria capaz de ir até a Arena de Gelo e voltar em questão de minutos se pudesse. Alpha era uma fada da água, ela controlava o elemento, mas não sabia nadar muito bem, não da mesma forma que aquele tritão. Ele dava um verdadeiro espetáculo embaixo da água.

— Elvis — Respondeu-a aparecendo surpreendentemente por trás.

— O quê? — Ela não entendeu, pois se assustou com a presença repentina do rapaz. Tinha o perdido de vista.

— Meu nome é Elvis. Não foi isso que você perguntou?

— Elvis é o seu terceiro, quarto, quinto ou sexto nome? — Disse ela, com um ar descontraído.

— Na verdade é o sétimo — Ele respondeu com um sorriso maior no rosto — E você, quem é?

— Eu já lhe disse uma vez, não pretendo repetir. Mas então... Elvis. Eu preciso ir agora.

— Por quê?

— Porque obviamente você é um espião. Nós sabemos que há uma guerra prestes a se iniciar.

— Nós não iniciamos a guerra — Respondeu o rapaz, convicto.

— E eu sou uma sereia — Respondeu ironicamente. Nadou até a margem, sendo seguida pelo tritão, se pusera a levantar, mas teve seu braço puxado pelo mesmo.

— Nós não iniciamos a guerra — O rapaz falou novamente, olhando nos olhos dela. Alpha podia ver seu rosto confuso refletir nos olhos negros e brilhantes do tritão. Soltou o seu braço do elemental, deu de bruços e abriu suas asas. Chacoalhou-as para não ficarem tão pesadas, enquanto o rapaz observava a cena.

— O que foi? — Se virou perguntando envergonhada.

— Nada — Respondeu ele, ainda com um sorriso no rosto.

— Você deveria saber que quando um ser feminino está se trocando, o masculino deve olhar para o lado oposto! — Falou com autoridade.

— Vocês vivem assim no mundo de vocês? Blergh. Deve ser chato! — O rapaz terminou.

— Bom, Elvis, eu estou indo, e tenho certeza que não vamos nos encontrar por um bom tempo — Falou em um tom estressante pois não gostou da forma que ele respondeu, o achou impróprio. Calçou seu calçado e saiu. O tritão ficou ali, por alguns minutos esperando que ela voltasse, quando convenceu-se de que ela tinha ido embora, também partiu.

Chegou até o portão do castelo, estava certamente atrasada e sabia que levaria um esporro da Queen Faye Fairy, mas não estava se importando, tinha conversado com sua mãe e acabara de conversar com um tritão que ela havia observado por dias, ou até mesmo semanas. Ao chegar, notou a presença não só das duas, mas de um outro ser que ali estava, certamente a ajuda que Faye havia citado.

— Você tem uma mania muito estranha de se atrasar, Alphace — Anala falou sem perder o tom sarcástico.

— Eu estou aqui, certo? O resto não importa — Falou quando percebeu a boca de Faye Fairy se mexer, já sabia que levaria um sermão.

— Certo. Vamos focar no plano. Alpha, este aqui é Dioniso, ele é um Elfo, não confunda com um duende e desta vez não me pergunte a diferença pois não tenho tempo para explicar. Ele irá levar vocês até a Arena de Gelo.

— Prazer, Dioniso! — Falou cumprimentando o rapaz. Dioniso não era um pequeno de 20 centímetros, tinha a aparência de um jovem humano de 16 anos, exceto pelas orelhas pontudas. Seus cabelos eram castanhos e ele usava uma roupa verde, que visualmente parecia estar colada em seu corpo, ele também carregava consigo um arco de madeira, com algumas flechas feitas do mesmo material.

— O prazer é meu! — Ele respondeu, encantado com a beleza da fada. Anala percebeu o clima, que pra ela era idiota e fez questão de cortá-lo.

— Então, vamos pescar ou não? — Perguntou.

— Esperem — Disse Faye Fairy — A partir do momento que vocês cruzarem o Bosque até a Floresta Negra, vocês irão sentir um peso saindo de vocês. Deixarão de cuidar dos humanos que cuidam, não sentirão mais a presença, sintonia, sentimentos e nada dele. Outras fadas serão colocadas em seus cargos.

— Essa é a melhor notícia em anos — Disse Anala, que não gostava nada nada do humano que cuidava, na verdade, ela acreditava que ele era seu karma.

— Ah, teve algo que ainda não mencionei — Faye Fairy estava sempre surpreendendo as duas fadas.

— Não me diga que vamos encontrar um dragão que irá cuspir fogo em nossa cara — Retrucou Anala, ironicamente.

— Vocês irão encontrar coisa pior! Mas não é isso. Quando chegarem na Arena de Gelo, assim que encontrarem Elsie, deem as coordenadas 8-13-17-22.

— O que esses números significam? — Perguntou Alpha, cansada de tanto mistério.

— Se eu pudesse falar não teria dado as coordenadas. Temo estar sendo vigiada, então fique assim, na hora ela saberá o que fazer. Mas atenção, deem essas coordenadas apenas para Elsie — Tornou a falar, para dar ênfase — Apenas para Elsie!

— Tudo bem — Alpha assentiu.

— Boa sorte, meninas! — Falou Faye com um tom de esperança.

E os três entraram floresta a dentro.

Capitulo 01 : Coroação

Tão brilhante quanto a lua, mas com as cores do sol. O amarelo se destacava entre as demais cores que se originavam dele. Era possível ver tons escuros e claros se formando gradualmente em direções opostas, porém, vivos e claros como as águas de um rio. Não tão áspero, não tão macio, mas confortável o suficiente para aquele que ali repousaria.

Foi assim que Alpha terminou seu dia, colocando a última folha de outono que ela precisava no chão. Ali, descansava, pois não obteve ajuda para carregar aqueles órgãos que lhe seriam usados como cama mais tarde. Ela passara o dia colhendo novas folhas, tendo em vista que as outras estavam ásperas e com mordidas de insetos. Porém, mesmo com o novo lugar, não foi o suficiente para Alpha ter uma boa noite de sono. A fada de cabelos brancos e suaves como a neve virava de um lado para o outro em seu novo local de repouso. Não estava sentindo falta da cama antiga, e sim preocupada com o que aconteceria no dia seguinte. Como a lenda diz, as noites de outono são mais longas que os dias, para Alpha, aquela em especial era uma eternidade.

— Eu sei que você está aí, Mel, não precisa se esconder — Ela falou em um tom baixo, seguido de um longo bocejo, estava de olhos fechados, mas ainda conseguia sentir a presença de sua joaninha de estimação no quarto. O inseto se dirigiu até a orelha de Alpha, aonde andou em círculos, fazendo cócegas e provocando sorrisos baixos de sua dona. Mel era uma joaninha terráquea, não era um inseto que nascera no plano elemental, Alpha a encontrou em um bosque enquanto tomava conta de seu humano, porém, o inseto tinha problemas maiores, pois havia caído na teia de uma aranha e já estava preparado para ser a refeição da mesma, se Alpha não tivesse surgido. Gentilmente, Alpha desenrolou os fios que cobriam o pequeno corpo de Mel, vendo ali um inseto totalmente fraco e à beira da morte. Logo após contestar o bem-estar de seu humano, a levou para o plano elemental e ali cuidou da joaninha, que desde então jamais lhe deixou.

— O dia vai ser difícil. Sim, eu sei, eu preciso estar bem para amanhã, vai ser um grande dia e blah, blah, blah! Ouvi isso a semana inteira, então, por favor, me economize por agora — Ela certamente entendia o que a joaninha tentava lhe dizer, então respondia da forma mais cautelosa para que não pudesse magoar o animal. Desejou-lhe boa noite e assim adormeceu.

— Eu não acredito que estou tendo que fazer isto! — Uma voz rouca soou por trás das cortinas feitas de folhas. Assim como a antiga cama, aquelas ali precisavam de um reparo e já era a hora de Alpha trocá-las. Mas ela ainda não tinha forças suficientes para fazer os dois trabalhos em um único dia.

E em seguida o som de um trompete foi soado. O barulho foi tão alto, que Mel, que dormia em cima dos cabelos platinados de Alpha, caiu em cima das folhas de cabeça para baixo. Alpha, também levantou, assutada.

— Por que todo esse barulho? — Perguntou assustada ao levantar.

— A cerimônia já vai começar e aí está você, roncando feito um gnomo gordo e bêbado! — A voz que reclamava foi ficando cada vez mais próxima, embora Alpha já a reconhecera antes mesmo dela surgir, sabia que apenas uma pessoa tinha coragem de acordar alguém com trompetes. Era Lyr, sua melhor amiga.

A fada adentrou a casa de Alpha, ficando de pé e observando-a se espreguiçar. Lyr era uma fada jovem e bonita, ela era um doce de pessoa, mas quando pegava no pé de Alpha, não demorava a largar. Tinha cabelos castanhos escuro, que valorizavam sua pele branca e seus olhos cor de mel. Não poderia acreditar na cena que estava vendo a sua frente.

— Já vou lhe ajudar — Respondeu.

— Eu não estou pedindo ajuda alguma. — Falou com sua voz doce, agora menos exaltada.

— Não falei com você, falei com a Mel! — Disse ela observando Mel com as patinhas se mexendo no ar enquanto estava com o casco virado pra baixo, posteriormente, colocando-a na posição correta.

— Por favor, me dê um tempo! — Pediu Alpha, agora, para sua amiga. E sentou-se em sua cama.

— Ainda está falando comigo ou com esse morango voador? — Lyr era fofa, mas quando precisava convencer Alpha de alguma coisa, era sarcástica, mas Alpha já tinha se acostumado com o jeito da amiga, sabia que no fundo era uma boa fada.

— Com você mesmo.

— Bom, não há tempo, são 14h em ponto e as fadas da água já estão sendo convocadas. Estão sendo selecionadas por ordem alfabética e eu acho que seu nome começa no início — Disse explicando a situação e parecendo estar preocupada.

— Espere, preciso me arrumar! — Exclamou a fada.

— Você já está arrumada! — Respondeu Lyr, que usou de magia para colocar um belo vestido dourado no corpo de Alpha, no lugar da curta camisola branca que ela usava. Certamente, quando a fada voasse, o vestido entraria em sintonia com o belo par de asas que Alpha possui, brancas com graduações metálicas e principalmente, fortes o suficiente para aguentá-lo.

— Por que você usou magia para me colocar um vestido? Não era necessário, eu poderia simplesmente me arr... — Foi interrompida por Lyr, que puxava seu braço, na tentativa de levá-la para fora da casa

— Se quiser te coloco uma roupa de gnomo ou te deixo pelada, não vai fazer diferença quando você estiver submersa, vai estar encharcada do mesmo jeito — Respondeu a amiga.

— Tudo bem, mas eu não vou a lugar nenhum sem a Mel.

— Ok! — Fez surgir uma pequena gravata em Mel enquanto arrastava a amiga para a sede do bosque.

O local era em frente ao castelo da Fada do Espírito Real, a mais rica e poderosa da cidade. Ficava atrás de uma linda cachoeira, sendo ali o ponto de fusão entre o reino das fadas e o dos seres marinhos. O castelo só era aberto ao público de 300 em 300 anos que era quando as fadas faziam a cerimônia de coroação ou em alguns casos de emergência. O castelo também era o centro da vida das fadas. Elas montavam suas casas ao redor do mesmo como se fosse uma pequena cidade. Mas naquele ano, todos estavam preparados para a cerimônia que desta vez iria coroar uma jovem fada do elemento Água.

— Não acha que está um pouco atrasada, Alphace? — perguntou uma voz irônica. Alpha já a reconhecera, era Anala, uma fada de cabelos curtos com tons azuis escuros, que combinavam com suas asas de mesmo tom. Ela esboçou um sorriso ao terminar a frase.

— Eu já lhe disse que esse apelido não tem graça alguma? — Perguntou. Não tinha medo algum de Anala, pois sabia que apesar da aparência, ela era apenas mais uma fada invejosa do reino.

— Não se responde uma pergunta com outra — Retrucou.

— Enfim, meu nome já foi chamado? — Alpha questionou.

— Não — Respondeu a fada dos cabelos azuis.

— Então eu não estou atrasada — Fechou o assunto, tomou-se o assento ao lado da mesma, junto de sua amiga Lyr. Elas observavam algo acontecendo mais a frente.

As primeiras fadas estavam em uma espécie de grande cápsula de vidro, ali era depositada a energia dos elementos, como este ano era o ano do elemento água, as fadas ficavam submersas. Apenas a Fada Rainha da Água conseguiria respirar embaixo da água como forma de poder ilimitado do elemento, era um teste simples. Como a cápsula foi projetada para captar as sensações das fadas, assim que o afogamento começasse, em seus primeiros segundos, antes da cápsula estar inundada, o local imediatamente esvaziaria. A cápsula foi criada justamente para não haver risco de morte.

— Teste finalizado! — Gritou uma voz mais a frente. Era de uma mulher exuberante, com cabelos longos que chegavam até a cintura, escuros como a noite e macios como o pêlo de um animal. Como nenhuma das fadas que estavam naquela cápsula foram aprovadas, elas logo saíram, encharcadas, enroladas em uma toalha, sendo guiadas por elfos que as ajudavam a descer os degraus de madeira. Enquanto os próximos nomes foram chamados imediatamente pela mesma voz.

— Alice Westick. Alina Overdeese. Alpha Nihaus. Alphine Gardarin. Amora Soveikas. Anala Taroo-Toroon

As seis garotas se dirigiram ao palco, nervosas. Elas ficaram em pé em frente à suas cápsulas aonde elfos colocaram agulhas em seus pulsos, que estavam ligadas à fios conectados ao local. Era de onde as sensações das fadas seriam transmitidas. Entraram na cápsula e as portas foram fechadas. A máquina foi ligada e a água começou a subir, rapidamente. Da platéia, Lyr estava nervosa por sua amiga, não queria que ela fosse escolhida pois o reino da Fada Rainha da Água é o mais distante de todos. A água já estava atingindo o pescoço das fadas, Alice e Alphine logo se abaixaram, queriam que aquilo acabasse logo, para elas não havia motivo para prolongar, embora o pavor tomasse conta. Ambas sentiram o medo enquanto estavam submersas e logo já não conseguiam respirar. Em questão de segundos as cápsulas de ambas foram esvaziadas. Apenas quatro restavam. Já não havia mais espaço para respirar, todas as fadas restantes estavam embaixo da água, eram de fato as melhores que já tinham passado pela competição naquele ponto. Alina foi a primeira dentre elas a se contorcer, saindo em seguida, e logo Amora. Deixando apenas Alpha e Anala ali.

— Isso vai ser divertido — dizia Lyr da plateia.

Alpha e Anala já estavam submersas há bastante tempo, nenhuma das duas dava brecha uma para a outra. Aquilo estava além de uma coroação para ser a Fada Rainha da Água, aquilo era uma disputa de egos. Ao final de mais um tempo, nenhuma das duas sequer se moveu da água.

— Elas estão mortas! — Exclamou uma voz da plateia.

As duas acenaram, pois ouviram a voz de quem quer que tenha dito aquilo. A fada dos cabelos escuros sentou-se, observando as duas, enquanto cochichou para um dos elfos que era seu servo há um tempo.

— É uma delas.

A plateia estava impaciente, ninguém ficara tanto tempo submerso assim. Queen Faye Fairy, a Fada Rainha do Espírito Real já sabia o que estava acontecendo, porém, preferiu esperar mais um tempo para concretizar seu pensamento.

— Não sabemos o que está acontecendo, nunca duas fadas demoraram tanto tempo para saírem de um teste — Queen Faye Fairy disse, tomando à frente das cápsulas — Então enquanto isso os outros nomes serão chamados e os testes continuarão.

"Anne Sabatoge". E com isso várias outras fadas do elemento água foram convocadas, mas nenhuma durava tanto quanto as duas que ali estavam. "Nicole LaMuer". O tempo passava. Alpha e Anala já estavam entediadas, mas sabiam que era necessário caso quisessem uma coroa em sua cabeça. Alpha chegou a considerar fingir um afogamento, pois para ela viver na realeza não traria benefício algum, pelo contrário, ela teria mais compromissos do que já tinha. Porém, desistir para Anala vencer era algo que estava fora de cogitação.

Quando a última fada da água saiu, já não haviam mais duvidas. Levantou-se, mostrou seus cabelos escuros e longos ao público e com uma voz superior anunciou.

— Pela primeira vez aqui no reino de Tuatha de Danann a coroação de Fada Rainha da Água é dividida entre Alpha Nihaus e Anala TarooToroon! — Exclamou sorridente.

A plateia, claro, foi a loucura. Enquanto as cápsulas foram esvaziadas, e as duas saíram, visivelmente surpreendidas com o resultado. Queen Faye Fairy levantou os braços de cada uma para o céu enquanto a bonita paisagem se encheu de nuvens carregadas. Era aquele momento, elas estavam sendo oficializadas para o público como as rainhas do elemento água.

— As rainhas do elemento água da nova geração! — Disse ao som dos relâmpagos, que foram seguidos de uma gloriosa chuva.

— Isso é impossível! Deveriam ter nos deixado lá por mais tempo! — Alpha dizia indignada para sua amiga Lyr. Elas estavam em uma sala privada, dentro do castelo real.

— Vocês estavam submersas há uma hora e dez minutos, Alpha, nenhuma fada normal chega a isso. Nenhuma!

— Há trezentos anos atrás houve a coroação da Fada Rainha do Fogo, eu não me lembro de ter visto duas fadas coroadas. Quando eu nasci, foi a coroação da Fada Rainha da Terra, mamãe não me disse nada sobre duas fadas sendo coroadas naquele dia. E daqui a trezentos anos teremos a coroação da Fada Rainha do Ar e eu duvido que duas serão coroadas, então sim, Lyr, tem alguma coisa errada.

— Quem sabe as regras tenham mudado? Ninguém sabe o que os deuses reservam para nós — Lyr falou isso, pois estava esperançosa, queria que na próxima coroação ela fosse escolhida para ser a Fada Rainha do Ar.

— Eu sei o que você quer, mas acredite, não vale a pena! Imagina o que deve ser, passar os próximos 900 anos longe da sua família! — Estava visivelmente chateada. Alpha já era uma fada adulta, morava sozinha, mas ainda assim valorizava sua mãe e seu pai. Não tinha irmãos, era filha única, então para eles, ela era tudo.

— São sacrifícios que temos que fazer, Alpha — Falou de forma compreensível, abraçando-a posteriormente.

— A rainha precisa de você! Apenas você. — Disse um elfo adentrando a porta, interrompendo o momento das duas. Alpha sabia que era urgente, então logo se dirigiu até o salão principal do castelo real. O elfo a guiou até o caminho em que a rainha estava.

Ao chegar lá, Alpha viu Queen Faye Fairy, a Fada Rainha do Espírito Real, visivelmente preocupada. Anala estava ao seu lado, esperando por sua chegada. Estava tão apreensiva, pois tinha sido chamada em urgência, que sequer deu tempo de reparar na riqueza do castelo que estava em sua volta. As paredes eram cobertas por pedras cristalizadas que formavam o símbolo dos quatro elementos individualmente, ficando em volta do quinto elemento, o espírito.

— Já era hora, Alphace! — Falou ironicamente.

— Tenha respeito pela sua colega, Anala. Agora vocês são rainhas, devem tomar as decisões juntas e não se comportarem feito duas adolescentes que ainda trocam farpinhas — Anala engoliu seco, a rainha havia pegado pesado com ela, certamente estava jogando suas frustrações pra cima da fada azul.

— Eu estou aqui, já pode falar — Disse Alpha, tentando esconder a risada baixa que deu ao ouvir o fora que Anala levou.

— Vocês terão que partir hoje. Na verdade, vocês terão que partir imediatamente para a Arena de Gelo.

— O quê? Isso não acontece após uma semana de coroação? Ainda não arrumamos nada! — disse Alpha, visivelmente chocada.

— Me desculpe — Respirou fundo antes de continuar — Alpha, estou preocupada, mas a situação é crítica. Elsie, nossa Rainha Fada da Água atual está passando por dificuldades e precisa ser resgatada imediatamente.

— O que houve com ela? — Perguntou Anala.

— Como vocês sabem, uma Fada Rainha Elemental reina por cerca de 900 anos e vive por cerca de 1200, algumas passam disso e chegam até a idade de 1500 ou 1800 anos. Elsie irá sobreviver por mais um bom tempo, mas está adoecendo rapidamente, e com isso as geleiras da Arena do Gelo irão derreter e as criaturas de gelo estarão mortas em breve. A Arena do Gelo precisa da Fada Rainha da Água o mais rápido possível.

— Mas por quê ela está adoecendo rapidamente? Isso deveria estar acontecendo? — Alpha questionou, temia que o lugar estivesse com algo contagioso.

— Não é nada contagioso — Disse Faye Fairy como se lesse os pensamentos de Alpha — Mas Elsie está vulnerável pela idade, está sensível e com isso vem os ataques das nossas rivais. Acreditamos que Elsie tenha sido envenenada para adoecer rapidamente.

— Envenenada? Mas por quem? — Alpha perguntou, estranhando a situação.

— Sereias — Respondeu a Queen Faye Fairy, fazendo com que as duas fadas olhassem uma para a outra, preocupadas.