sexta-feira, 29 de agosto de 2014

1x10 : Espírito Real

Dourados, vermelhos, mistos, com listras. Tudo que enxergava eram peixes, de diversos tamanhos e cores. Não conseguia se mexer devido as grades que lhe prendiam por todos os lados possíveis. Alpha estava em pânico, temia o que iria acontecer. Observou um tritão se aproximar rapidamente. Era um tritão de cabelos loiros e uma longa cauda verde-escura, feita de escamas brilhantes da mesma cor. Ele tinha um jeito maléfico na forma que olhava para ela.

— O que vocês fizeram comigo? — Ela perguntou, colocando o rosto entre duas barras de ferro.

— Nós garantimos o futuro... Da nossa espécie — Ele disse, dando as costas para ela e saindo.

Colocou o primeiro pé no chão e quase não acreditava no sentimento que sentia. Cambaleou, sendo aparado por um braço forte posteriormente. Apesar de já ter estado de pé várias vezes, estava desacostumado com aquela situação. Observou a sua frente um enorme grupo de fadas, liderado por Alpha, Anala e Terrena e outros Elfos.

— Depois de tantos anos embaixo da água, é quase impossível acreditar que estou de volta — Disse o King Dart, observando a beleza do local. Seu corpo, apesar da idade, estava bem conservado. Não tinha um físico como o de seus filhos tritões que estavam no auge da juventude, mas ainda não estava descartável.

Impaciente, Anala colocou uma toalha e algumas roupas no chão, cobrindo seu rosto, assim como as outras fadas faziam. Havia algo diferente em Anala, talvez o mesmo que tivera acontecido com Focus estava acontecendo com ela, estava mudada.

— Após 3 mil anos longe desse lugar, eu jamais imaginei que estaria aqui de novo. Aonde está Queen Faye Fairy? — Perguntou notando a falta da fada rainha, enquanto vestia as peças de roupas que lhe foram dadas.

— Você não precisa chamá-la de "Queen" mais — Disse Anala com um sorriso no rosto. O mesmo sorriso despertou em Dart que se dirigiu até a garota.

— Então vocês sabem... — Examinou ele — É interessante. Eu jamais imaginei que Faye Fairy seria destronada. É claro, se Elsie nunca foi, por quê ela seria? — Disse ele sorrindo, o que espantou as demais fadas.

— Como você sabe sobre Elsie? — Alpha questionou.

— Sejamos claros, assim como vocês tem informantes em nosso reino, nós temos no de vocês. Então vamos ao ponto? — Pediu, terminando de se vestir completamente. Alisou sua barba longa, que ainda pingava algumas gotas de água e deu um sorriso animador.

— Nós precisamos descobrir quem é a nova Fatae. Eu ou Anala e não sabemos como realizar o teste — Disse Alpha, firme.

— E por que eu ajudaria vocês? O que eu, e minha espécie ganhariamos com isso? Até o momento você só falou o que vocês ganhariam — Ele disse, não surpreendendo-as.

— Mudanças — Disse Alpha.

— Em quê? — Ele perguntou.

— Nas regras — Afirmou a fada da água.

Desciam as escadas do castelo lentamente. À sua frente, estava a salamandra, descendente do fogo, Flânis, sendo empurrada pela fada rainha da terra, que estava nervosa.

— Você vai nos dizer aonde está Aryana agora! — Dizia Trish em tom firme, visivelmente irritada. Teve seu braço puxado por Focus, que a olhou em seus olhos. Por um momento, pensou em relutar e soltar as mãos do elemental de seu braço, mas estava vidrada em seus olhos que se transformaram novamente em cor de brasas.

— O que você está fazendo? — Questionou com voz baixa, embora soubesse a resposta.

— Acalmando você — Ele respondeu, enquanto controlava tensão que a mesma sentia. Mesmo sendo uma fada da terra, Trish sentiu-se leve. Percebeu as mãos do rapaz, então, descerem pelo seu corpo e pararem em sua cintura.

— Sério que eu vou ser obrigada a ver isso? — Perguntou Flânis, arrogante, quebrando o clima entre a dupla.

— Desde quando você virou uma vaca? — Trish perguntou, virando-se. Passou a mão pelo seu cabelo e então sentiu a mão de Focus afastar-se de seu corpo.

— Aonde Aryana está, Flânis? — Ele perguntou.

— Aqui, já chegamos — Disse ela, revirando os olhos. Levantou as mãos e passou pelo local, desfazendo um muro invisível, revelando então, Aryana. Mas a fada rainha do ar estava diferente. Não era a mesma. Seu cabelo estava bagunçado, seus olhos estavam cheios de olheira, sua pele estava pálida.

— Não confiem nela! Não confiem nela! — Disse, surpreendendo-se ao ver o trio junto novamente. Estava chorando, gritando, visivelmente transtornada. Estar aprisionada em um campo de ilusão, havia mexido com sua cabeça, ela estava insana. Trish viu tudo aquilo, ficando em choque com a situação em que Aryana se encontrava. Foi até a mesma e lhe deu um abraço apertado. Focus olhou para Flânis e depois para Aryana.

— Nós precisamos... E vamos conversar — Disse.

Adentraram o Santuário Elemental que parecia o mesmo de quando estiveram ali pela primeira vez. As chamas que haviam incendiado o local, não haviam surtido qualquer efeito. Era como se nunca tivesse pegado fogo.

— Eu não entendo esse lugar. A energia aqui é a mesma sempre, ele não morre — Alpha disse, surpreendida com o que via.

— Você realmente não sabe nada da história do nosso reino não, é, jovem fada? — Ele perguntou, com um sorriso no rosto.

— Alpha NiHaus — Ela disse.

— Não me parece muito o nome de uma rainha — Ele disse.

— Nós não nos preocupamos com nome. Você pode por favor começar isso logo? — Disse Anala, impaciente.

— Espere um pouco — Ele disse. E então se dirigiu até a alavanca que ligava e desligava a energia do local e então a virou. Não a puxou para baixo, a virou, revelando um fundo falso. As demais fadas estavam surpresas, mas aquela não era a única surpresa. O teto, brilhante, começou a revelar números: 8-13-17-22-15-18-20-24-25-29, eles foram aparecendo na tela de forma aleatoriamente, piscando juntos.

— O que esses números significam? — Anala perguntou, maravilhada com a visão que via. Não conseguia tirar seus olhos da parte superior do local.

— Cada número desse é a idade em que cada Fatae foi coroada de forma reduzida. Como vocês sabem, a coroação é de três mil em três mil anos, então para que não ficasse algo extenso, foi marcado de forma reduzida. 800 anos, 1.300 anos... Até Faye Fairy, que foi coroada com 2.900 anos de vida.

— Para que servem as marcas? — Alpha indagou.

— Nós nunca soubemos o porque dos números ficarem registrados, mas acreditamos que a energia de cada fada esteja sendo guardada ali e por isso este lugar é do jeito que é. Porque são diversas energias de épocas diferentes em uma só harmonia — O rei tritão respondeu.

— E como isso vai ajudar no teste? — Agora foi a vez de Terrena perguntar. Apesar de já ter uma boa idade como fada rainha de seu elemento, Terrena não tinha muito conhecimento, afinal, ficava afastada de acordo com as regras que Faye Fairy havia implantado.

— Após o fim do teste, a idade da Fatae será revelada no centro. Então primeiramente, precisamos saber a idade de vocês.

— 575 anos — Disse Alpha olhando para Terrena que assentiu. O Kind Dart assentiu também e então foi a vez de Anala, que permaneceu calada.

— 601 — Disse, não querendo revelar sua idade, mas cedendo pela necessidade.

— Bem... Parece que teremos a Fatae mais jovem de toda a história do reino — Ele disse, esboçando um sorriso, e então dirigiu-se até os tanques, aonde começou a prepará-los.

— Você vai nos pôr nos tanques de novo? Nós não somos estúpidas — Anala disse, atacando-o.

— Como assim? Vocês já estiveram em um tanque? — Ele questionou. Não tinha conhecimento da história completa.

— Alpha estava quase morrendo, estava fraca. Então colocamos ela e Alpha no tanque e Focus, um elemental salamandra no tubo, eles trocaram energias. Mas acho que passamos do limite, Anala não voltou mais. Mas é claro, não foi neste local, foi em outro — Disse Terrena, tentando explicar a situação.

— Ok — Ele disse pensando. Foi até uma mesa que ali se encontrava, puxou uma gaveta e encontrou o que procurava — Os anos passam, mas algumas coisas nunca mudam — Disse ele, referindo-se a um pequeno martelo. Então ele se pôs a um pequeno tubo que conectava dois tanques e o quebrou — Isso deve resolver.

— Você confundiu minha cabeça — Alpha disse, confusa.

— Vocês trocaram energia de forma errada, não me surpreendo ter matado uma de vocês — Ele se dirigiu aos tubos maiores, os que pareciam mais cápsulas, quebrando os tubos menores que eles tinham com os demais conectados — Cada energia em um tubo é suficiente para um elementar. Eu não sei nem como os três ainda estão de pé!

— Foi tudo premeditado por Queen Faye Fairy, com certeza. Ela provavelmente sabia que teríamos que recorrer a este processo — Disse Alpha, analisando os fatos.

— Enfim. Os tubos estão separados, não há perigos. Vocês estarão inconscientes para nós, mas na cabeça de vocês, estarão em outra situação. Vocês enfrentarão todos os elementos, o fogo, a terra, o ar e água, mas o que definirá vocês é a junção de todos eles: o espírito.

— Nós trocamos energias, nós duas temos ambas as habilidades — Alpha disse.

— Sim, vocês tem os quatro elementos, mas apenas uma tem o quinto. O espírito é um elemento intransmissível. Ele é a junção de tudo. Estão prontas? — Ele perguntou.

— Estamos — Alpha afirmou, incluindo Anala também.

— Mas antes, vocês precisam saber. Quando chegarem lá, vocês não lembrarão o que estão fazendo. Apenas após aceitarem o elemento como parte de vocês. Como vocês vão fazer isso, eu não sei, mas terão que fazer — Ele disse.

— Tudo bem, mais alguma coisa? — Anala perguntou.

— Ah sim, vocês também não terão asas. Terão que usar o ar como elemento se quiserem voar — Elas assentiram e então, entraram nos tanques. Terrena observou.

Segurava a fada rainha em seus braços. Sua maior vontade era se levantar dali e encher Flânis de socos e pontapés, com sua habilidade, doeria mais intensamente na salamandra, mas sabia que não podia fazê-lo. Não enquanto Focus estivesse ali. Olhou de canto e viu o elemental conversar com a irmã.

— Me desculpe se eu fiz você se sentir inferior em algum momento! — Disse o rapaz, em tom baixo, tentando manter uma conversa saudável com a irmã, que permanecia com um olhar ignorante, sem responder uma palavra — Eu fui criado para te proteger, para ser um exemplo para você. Talvez eu tenha passado do limite? Sim, não nego. Mas Flânis, tudo que fiz, não foi pra deixar você pra baixo, foi pra lhe incentivar. Eu nunca fui um mestre do fogo, nunca. Mas precisava ter essa imagem para você ter em quem se segurar. Eu não queria ser um exemplo pra você, eu queria ser um limite. Porque se você pensasse que eu era o fodão, então, não haveria motivos para você se arriscar com seus poderes. Eu só queria proteger você — Ele disse. E mesmo sendo as palavras mais sinceras que Flânis já ouvira do irmão, ainda não se manifestava — O que você quer que eu faça?

— Desculpas não irão resolver. Não irão curar a dor que eu senti — Ela disse, por fim, respondendo.

— Eu não pedi desculpas por ter te magoado. Eu estou te pedindo desculpas por não ter sido o irmão que nossos pais queriam que eu fosse — Disse ele, abaixando a cabeça.

— Você não vai chorar, vai? — Disse ela, vendo que o irmão estava emocionalmente abalado. Olhou para os braços do elementar e viu que estavam arrepiados. Se aproximou então, e levou seus cabelos loiros em direção a seu peito, abraçando-o — Você se saiu ótimo — Disse, perdoando-o.

— O que fizeram com você? — Trish perguntava, olhando para Aryana. Não conseguia reconhecer a mesma pessoa que havia lhe dado casa.

— Eles me mataram! — Ela disse suavemente. Até que empurrou Trish para longe — Eles me mataram! — Disse agora, gritando.

— Desejo-lhes uma boa noite, criaturas do fogo e da terra, que... — Foi interrompida por gritos. Não gritos de uma fada banshee, mas de uma fada comum que provavelmente havia perdido sua vida. O grito da fada ceifeira foi ouvido em seguida. A felicidade que estava na mesa de jantar virou pânico imediatamente. Estavam todos no castelo de Aryana e Terrena, brindando, quando viram a mulher de cabelos verdes entrar.

Mas algo estava errado. Tudo estremeceu. Aryana olhou ao seu redor e viu seu corpo conversando com a mulher de verde, mas ela não estava fazendo aquelas ações. Estava desesperada. Começou a tocar todos os seres sobrenaturais que estavam naquela mesa, mas nenhum parecia senti-la. Caiu, ajoelhada aos chãos, desesperada.

— Aryana... — Disse Flânis, aproximando-se misteriosamente.

— Flânis! Flânis! Algo aconteceu, eu acho que morremos! Nosso espírito saiu de nosso cor... — Dizia desesperada, mas foi interrompida por uma gargalhada.

— Não, você não morreu, não ainda... — Caminhou e deu um chute forte em Aryana, que a fez parar longe. A fada rainha do fogo estranhou — Lembra de todas as humilhações que você me fez sofrer? Tudo que eu tinha que servir pra você, pra no fim você tratar bem apenas a Trish?

— O que você está fazendo? — Disse, arregalando os olhos, surpresa com a atitude da salamandra.

— Eu estou na sua mente. Na mente de todos eles. E eu vou mexer com cada partícula do seu cérebro até que você fique completamente maluca — Disse, desafiando-a.

Por sua vez, Aryana não iria deixar barato. No chão, se esquivou, levantando sua cabeça posteriormente, com seus olhos em tons de chama. Flânis riu. Os olhos de Aryana então começaram a transmutar. Eles ora ficavam vermelhos, ora castanhos, a cor normal que ela possuía. Flânis estava mexendo em sua cabeça de forma tão potente que estava controlando os poderes dela.

— O que você vai fazer comigo? — Disse a mesma, levantando-se.

— Eu? Eu não vou fazer nada. Mas Faye Fairy... — E sorriu, sumindo.

— Ei! Volte! Volte! Aonde eu estou? — Disse observando o mundo que ela conhecia, caindo diante de seus olhos. Transformando-se num verdadeiro branco e longo nada — Socorro!

— Não se preocupe, Aryana, isso não vai terminar assim — Prometeu Trish, observando a dupla de salamandras abraçada do outro lado da sala.

Abriram os olhos no mesmo instante. Estavam em uma praia, de vista para o mar. Em seus cabeças, sabiam que tinham um propósito, mas não sabiam o que deveriam fazer.

— Eu estou morta? — Alpha perguntou, olhando pelo horizonte.

— Eu não sei, eu não sei o que está acontecendo — Anala respondeu, tão confusa quanto Alpha. As duas caíram no chão com o tremor forte que começava.

— Qual a última coisa que você se lembra? — Alpha perguntou a amiga.

— Eu entrando no tanque... E depois eu acordei aqui e encontrei você — Disse Anala. Um segundo tremor foi sentido. As águas do mar começaram a ficar mais agitadas.

— Sim, você entrou no tanque e nunca mais acordou! — Disse, levantando-se.

— Como assim nunca mais acordei? — Levantou-se também. Com o terceiro tremor, as águas foram ficando cada vez mais agitadas, molhando-as.

— Nós precisamos sair daqui! — Disse Alpha, já encharcada. Ela então pegou na mão de Anala e as duas correram em direção a floresta.

Sentiram outro tremor chacoalhar o chão. Caíram novamente, mas levantaram-se rapidamente. Voltaram a correr, mas foram cercadas por fogo. Fogo por todos os lados, formando um círculo de brasas ao redor das mesmas.

— Nós somos fadas! Nós conseguimos passar por isso! — Anala disse, corajosa.

— Se estivermos mortas, não conseguiremos! — Alpha respondeu.

— Se estivermos mortas, nada poderá nos machucar — Anala respondeu, indo em direção ao fogo. Alpha correu atrás da mesma, indo puxá-la, mas já era tarde demais. Anala estava sobre as chamas e aquilo não a machucava, na verdade, ela estava em êxtase. Alpha olhou para os lados e viu todo o círculo de fogo se apagar, como se estivesse em efeito dominó, indo em direção a Anala, que absorvia aquela energia.

— Como você fez isso? — Perguntou, chocada.

— Eu não estou morta! Nem você! — Disse, com alguns flashbacks surgindo em sua cabeça. Não conseguia se lembrar completamente.

— Como assim? — Alpha perguntou.

— Eu só consigo ver imagens, mas elas estão deixando minha cabeça em turbulência! Eu acho que devemos enfrentar, não correr! — Anala respondeu, um pouco confusa. E mais um tremor foi sentido. A água começou a avançar mais forte e as duas fadas se colocaram em posição de combate.

Paradas, observaram o elemento as cercar por todos os lados. Era como se estivessem no meio de uma onda de surf, observando várias outras ondas se formarem dentro. Elas ergueram suas mãos para cima e a água começou a fluir cada vez menos, até que a última gota fosse sugada. Haviam controlado também, a energia da água.

— Eu estou me lembrando melhor! — Anala disse.

— Eu também consigo ver algumas imagens em minha cabeça, mas não estão tão claras! — Alpha disse. Antes que pudessem continuar a conversa, um tremor foi sentido, mais forte que os anteriores. Anala conseguiu segurar-se a uma árvore, mas Alpha caiu no chão. Quando suas mãos tocaram a terra, Alpha sentiu um formigamento estranho, retirando imediatamente.

— O que aconteceu? — Anala perguntou.

— Eu senti uma espécie de... choque! Um formigamento. Eu não sei! — Disse, de joelhos, olhando para suas mãos.

— Então faça novamente!

Alpha assentiu. Colocou suas duas mãos no chão. Os tremores começaram a ficar cada vez mais fortes, mas Alpha não sentia nada se mexer, era uma calmaria. A fada então levantou seu rosto e ficou de pé posteriormente. Olhou para o chão e percebeu que seu tremor havia separado ela de Anala com um grande buraco no meio.

— O que nós fazemos agora? — Alpha gritou para Anala, do outro lado.

— Eu não sei! — Ela respondeu, quando sentiu uma grande rajada de vento bater em seus ombros. O vento foi ficando cada vez mais intenso, empurrando-a para trás.

— Eu não estou conseguindo controlar — Anala disse, deixando Alpha desesperada — Eu não acho que eu seja a Fatae! — Respondeu enquanto sua memória ficava mais clara devido ao vento que vinha cada vez mais forte em sua direção.

Antes mesmo que Alpha pudesse reagir, o vento jogou Anala para trás, fazendo-a cair em direção ao buraco. Alpha apenas conseguiu gritar seu nome, assustada. Foi em direção até o limite de sua parte e viu Anala, segurando-se em uma pequena parte rochosa.

 — Você está bem? — Gritou novamente.

— Não! Está escorregando! — Anala disse, fazendo Alpha perceber o nervosismo em sua voz — Eu vou cair!

— Não, não vai! Eu vou encontrar algo pra te puxar — Disse, tentando acalmá-la — Por favor, só aguente mais um pouco!

Anala encontrou um outro apoio para segurar-se, conseguiu colocá-lo a tempo de sua mão escorregar do que ela se apoiava anteriormente. Porém, seus pés ficavam cada vez mais escorregadios e ela não conseguia encontrar outro suporte. Observou Alpha amarrando alguns cipós rapidamente, na tentativa de fazer uma corda.

— Eu acho que consegui fazer um grande o suficiente! — Disse, amarrando em sua cintura e posteriormente, amarrando outra ponta em uma árvore — Eu estou descendo! Segure mais um pouco!

Alpha começou a se distanciar e foi descendo, indo ao encontro de Anala, que ainda aguentava firme. Alpha já estava quase alcançando-a quando seus pés, escorregaram de vez do apoio que a fada de tons azuis se segurava, deixando-a apenas equilibrada pelo suporte que sua mão estava.

— Eu já estou chegando! — Disse Alpha.

Anala olhou para cima e viu a mão de Alpha indo de encontro a sua. Seus dedos estavam escorregando, não conseguiria aguentar mais um minuto ali. Soltou, por fim.

— Te peguei! — Disse Alpha segurando a mão de Anala no exato momento em que ela cairia — Nós conseguimos, passamos pelos quatro elementos!

— Mas não acabou ainda, e o quinto? — Disse Anala, enquanto se agarrava à cintura de Alpha cuidadosamente. A árvore que as prendia, então, começou a fraquejar e de longe, Alpha pode sentir o cipó afrouxar.

— O que aconteceu? — Anala perguntou, percebendo que Alpha havia mudado sua expressão.

— Nada, nós só precisamos escalar... — Dizia.

— Nós vamos cair, não é isso? Esse cipó não é forte para nos aguentar, não juntas — Disse Anala, percebendo e deixando Alpha novamente desconfortável. Alpha queria poder salvar todos.

— Não adianta, Alpha, você sabe muito bem que eu não sou especial. Eu não sou uma rainha! Quase matei Faye Fairy. Se uma de nós é a Fatae, é você — Anala disse, soltando-se de Alpha.

— O que você está fazendo? — Alpha estava chocada, não queria passar por aquela situação pela segunda vez.

— Esse é o teste, o quinto elemento! Uma de nós precisa subir e chegar lá. E será você — Soltou-se do corpo de Alpha de vez. Caindo.

Alpha observou os olhos de Anala caindo em meio ao nada, como se estivesse em slow motion. Olhou para cima e viu que a corda seria suficiente para ela subir. Mas não pode seguir. Desfez o nós de sua cintura.

— Eu não vou deixar você sozinha desta vez — Disse, jogando-se.

Uma massa de ar começou a se formar no meio do vácuo, seguida por uma luz que brilhava a longa distância. Essa luz começou a intensificar-se cada vez mais. Os vendavais começaram a ficar cada vez mais fortes também, revelando as duas fadas que flutuavam juntas, uma agarrada a outra brilhando. O grande buraco foi fechado e as duas puseram-se de pé sobre a terra. Elas olharam uma para a outra, sorrindo.

Abriram seus olhos, olharam pro lado e perceberam que estavam de volta ao tanque de vidro. Terrena não pode esconder sua felicidade ao ver que as duas estavam de volta, sãs e salvas, o plano havia dado certo. King Dart se dirigiu até as mesmas e tirou a tampa dos tanques de vidro.

— Então, qual de vocês é a nova Fatae? — Terrena perguntou.

— Eu acho que elas não precisam falar — Disse King Dart, olhando pra cima e vendo o número "5" sendo revelado em meio aos outros.

Anala ficou um pouco cabisbaixa, embora não pudesse fazer muito. Terrena abraçou Alpha, desejando-lhe parabéns. Anala fez o mesmo depois. Alpha estava em êxtase, a surpresa em seus olhos era nítida.

— Parece que temos uma nova Fatae! — Disse o King Dart, fazendo cumprimentos reais à ela, com um pequeno charme em seu rosto.

— Eu não sou uma rainha, não ainda, não precisa se esquivar pra mim — Disse Alpha, que estava um pouco sem graça.

— Voltamos — Disse Dioniso aparecendo ao lado de Queen Faye Fairy — E aí? Conseguiram?

— Nada previsível, Alpha é a Fatae — Disse Anala, mostrando-se um pouco chateada. Apesar de não demonstrar, queria ser importante.

— Parabéns, Alpha — Disse Dioniso com um sorriso em seu rosto, praticamente ignorando a fada de cabelo azul, indo em direção da nova Fatae para abraçá-la.

— Dart — Disse Faye Fairy com um sorriso cínico em seu rosto.

 — Qu... Faye — Disse, retribuindo o mesmo sorriso.

— Eu e Dioniso avisamos a todo o reino sobre a coroação da nova Fatae, é claro que de primeira eles não acreditaram em mim... Mas em algumas horas, todos estarão aqui — Disse Faye Fairy.

— Quem diria, de Fatae à ajudante da nova Fatae — O King Dart disse sarcasticamente.

— Assim como você — Respondeu ela, com um sorriso em seu rosto.

Do lado de fora do reino, uma grande celebração estava acontecendo. Os seres elementais estavam todos reunidos: Hárpias, gnomos, duendes, elfos, fadas, salamandras. Exceto por uma única espécie que não estava completa ali, as sereias. A celebração envolvia música eletrônica e até mesmo bebida.

— É por isso que eu amo as festas terráqueas! — Disse Flânis dançando.

— Eu nunca estive em uma — Disse Darrah, tentando acompanhar os passos que a mesma fazia.

— Nem eu, mas Terrena me explicava como funcionava. Venha cá! — Disse colocando o corpo da hárpia próximo ao seu.

— Como vocês conseguiram esse tipo de música? — Disse, um pouco mais descontraída, mas ainda meio dura.

— Não conseguimos, mas você sabe quais são as vantagens de ser uma salamandra. Nós podemos vivenciar o que quisermos.

— Você está em minha mente? Vadia! — Disse Darrah com um sorriso em seu rosto. A salamandra retribuiu o sorriso da mesma forma.

— Venha, pegue isso — Disse, entregando uma latinha para a hárpia.

— O que é isso? — Perguntou Darrah segurando a latinha.

— Chamam de Vodka na terra, dizem que te deixa um pouco maluco! — Flânis respondeu para a hárpia.

— Você quer ficar um pouco maluca? — Ela perguntou, desafiando-a.

— Pode apostar — Respondeu, bebendo um pouco.

Anala estava em outra parte da festa, parecia ser a única na qual não estava se divertindo. Dioniso se aproximou dela, notando a tensão da garota.

— Você esperava ser a rainha não? — O elfo perguntou, curioso.

— Não — Apenas deu uma resposta seca. Estava claro que ela estava chateada e ele queria saber o porque.

— Então o que aconteceu? — Ele perguntou novamente, não sairia dali sem uma resposta.

— Estou preocupada com Alpha. Vou procurá-la.

— Mas não saiu tudo como o planejado? — Indagou.

— É por isso que estou preocupada — E saiu, procurando Alpha.

— Vou te ajudar então — Ele respondeu, indo na direção oposta que Anala havia seguido.

Alpha estava no banheiro do castelo, terminando de se arrumar. Estava com um vestido prateado que realçava a beleza dos seus cabelos, estes que inclusive estavam mais brilhantes que nunca, talvez pela "dupla coroação" que ela havia vivenciado.

— Não está na hora da rainha ser apresentada a seu povo? — Disse o King Dart, entrando repentinamente, o que assustou Alpha.

— Eu já estou quase pronta — Disse, finalizando sua maquiagem — Agora eu estou pronta — Virou-se com um sorriso em seu rosto — Pareço uma rainha?

— Totalmente — Respondeu retribuindo o sorriso. Deu o braço para acompanhá-la e a mesma assentiu.

Eles então, saíram, acompanhados, passeando pelo corredor em direção ao lado exterior do castelo.

— Sabe, Alpha, Queen Alpha, é uma pena que os meus amigos e filhos tritões não estejam aqui para celebrar esta noite. 

— É, é uma pena, tenho certeza que os adoraria — Respondeu sem muito interesse no rumo que a conversa estava tomando.

— Bem, talvez você possa conhecê-los. Talvez bem mais perto do que você imagina — Ele disse com um sorriso no rosto.

Quando a dupla virou o corredor, um rapaz surgiu com um tridente de tamanho mínimo em suas mãos, atacando Alpha por trás. As três pontas perfuraram a nuca da mesma, liberando uma toxina que a fez desmaiar instantaneamente.

— Muito bem, Netuno, mais alguns anos e você será como papai — Ele disse, orgulhando-se do filho — Venha, vamos pela saída de trás — O tritão então pegou a mesma no coloco e em seguida seguiram em direção à saída. De longe, Dioniso viu a dupla saindo.

— Ei! — Gritou de longe, assustado ao ver Alpha caída nos braços de um desconhecido — Aonde vocês pensam que vão? — E imediatamente retirou seu arco e uma flecha de sua mochila, apontando na direção da dupla.

— Você leva a fadinha, eu fico com o duende — Disse Netuno, entregando Alpha nos braços do King Dart. Ele pegou seu pequeno tridente e o jogou para o alto. O objeto girou três vezes no ar, antes de voltar para as mãos do dono, em tamanho grande. Era um tridente de ouro, provavelmente de um rei.

— Mais um passo e eu atiro — Ameaçou o elfo. O King Dart não hesitou, continuou seguindo com Alpha em seus braços e Dioniso se viu sem escolha. Mirou a flecha nas costas do tritão e a soltou. A flecha foi em direção ao rei dos oceanos na velocidade de um trem-bala, mas antes mesmo que pudesse atingi-lo, Netuno, seu filho, a parou com seu tridente.

— Sério? Esse é o máximo que você consegue fazer? — Ele perguntou rindo. Dioniso sentiu uma fúria consumir seu corpo. Tirou mais flechas e começou a atirá-las rapidamente, enquanto Netuno não mostrava esforço algum em pará-las. Usava o tridente como objeto de defesa, ele o girava freneticamente, conseguindo usá-lo em vários locais que as flechas teriam atingido-o. Aproximou-se então do elfo, que se viu sem flechas. Dioniso observou um longo corredor, sendo que correr era sua única saída.

— Corra, elfo! Você pode correr o quanto quiser — Disse, enquanto se movimentava ainda usando o tridente. Parte de sua vontade de manobrá-lo, era também para exibir-se, e não apenas para defender-se. Seguia o elfo em passos lentos. Dioniso viu-se preso, não havia mais para onde correr. Estava no limite. Sua respiração ficou ofegante no mesmo instante.

— Eu acho que é melhor você preparar suas palavras de misericórdia — Disse o tritão, parando o tridente em frente ao elfo.

— Vá pro inferno — Respondeu o elfo, sem intimidar-se.

— Palavras erradas — Disse o tritão erguendo o tridente e enfiando no abdômen do elfo. Dioniso pode sentir as três pontas afiadas perfurarem seu corpo, atravessando-o completamente. Sentiu-se tonto no mesmo instante, caindo ao chão ainda com o objeto em seu corpo. Netuno olhou para o mesmo com um sorriso de vitória estampado em seu rosto.

— Vamos ver quem vai pro inferno primeiro — Disse com raiva no tom de sua voz, retirando o tridente posteriormente. Saiu, então, deixando o elfo ali para morrer.

Terrena e Faye Fairy esperavam por Alpha do lado de fora do castelo, já era hora da apresentação e a fada não tinha aparecido. Quem saiu, por fim, foi Anala, preocupada.

— Alpha sumiu — Disse imediatamente.

— Como assim? Eu acabei de deixá-la no banheiro! Ela já estava vindo — Faye Fairy falou.

— Ela não está em lugar nenhum — Anala falou preocupada.

— Como eu disse a vocês, não podemos confiar nas sereias — Concluiu.

Olhou para cima e viu vários números surgirem no ar. Eram eles 8-13-17-22, até o último, 29. Alpha e Anala estavam curiosas em relação a eles.

— O que esses números significam afinal? Por quê nunca podemos nos dirigir a esse lugar como Santuário Elemental? — Alpha questionou, levantando-se admirada com o brilho que estava sobre sua cabeça.

— Sereias tem buscado esse lugar por um bom tempo, mas nós temos conseguido ocultá-lo.

— Como? — Anala perguntou.

— Esse não é o ponto. O ponto é que esse lugar obedece aos comandos de uma Fatae, se o King Dart tentar nos enganar, nós e todos os outros seres elementais seremos escravos das sereias para sempre — Sentou-se em uma cadeira — Por isso temos que fazer um plano primeiro.

— Por quê confiariamos em você? — Terrena perguntou.

— Prefere confiar no King Dart? — Terrena assentiu, por fim — Cada número desses representa a idade que cada Fatae foi coroada, eu fui coroada com 2.900 anos.

— O quão velha você é? — Anala perguntou, recebendo um olhar fuzilante de Faye.

— Enfim... Quando a nova Fatae for coroada, o número de sua idade irá transparecer no teto de forma brilhante e isso poderá despertar olhares maldosos do King Dart, ainda mais se essa ideia de trazer sereias para nossa terra for a exigência que ele fará para nos ajudar... Então eu sugiro que troquemos a idade de vocês.

— Como assim trocar? — Anala perguntou.

— Entendi a que ponto você quer chegar. Eu por exemplo tenho 601 anos, se eu for a Fatae o número 6 vai aparecer lá em cima, mas se o King Dart pensar que a Fatae é a Anala, então...

— Então pimenta no meu olho, não é? — Disse revoltada, não acreditava que Alpha estava sequer pensando em aceitar aquela ideia.

— O que nós temos contra ele, Anala? Nada. Ele passou praticamente dez gerações submerso! Ele pode estar esperando por esse momento durante toda sua vida. Nós não podemos facilitar — Alpha concluiu — Além do mais, se você for a Fatae, sobra pra mim e eu aceito isso se for pra defender nosso reino!

Anala soltou uma risada desbocada — Então, combinado? — Faye perguntou.

— Está certo, vamos mentir.

Observaram o King Dart se afastar. Apenas as quatro fadas estavam ali, com a intenção de que iriam arrumar Alpha para a celebração que aconteceria mais tarde. Alpha foi ao encontro de Anala e a abraçou fortemente.

— Parabéns, Queen Anala, rainha do espírito real! — Disse com satisfação. Anala recebeu o abraço sem muito entusiasmo, não sabia de que forma agir e tinha medo de falhar.

— Nos saímos bem. Eu acho que ele não desconfiou de nada — Faye falou.

— Por quanto tempo elas terão que fingir isso? — Terrena perguntou.

— Vamos fazer a celebração em meu nome, esperamos um tempo e vemos se tudo deu certo. Caso confirmado, dizemos toda a verdade a nosso povo. É uma medida de segurança, eles entenderão — Alpha explicou.

— Exatamente — Faye concordou.

— Anala, você está bem? — Alpha perguntou, vendo que a mesma não demonstrava o mínimo de entusiasmo.

— Eu não sei o que fazer, Alpha. Eu simplesmente não sei. Eu não deveria ser uma Fatae, você deveria! — Disse Anala, ainda confusa com a situação.

— Você deveria parar de se subestimar e começar a acreditar em si mesma primeiro! — Terrena se intrometeu — Você tem o seu valor, não o diminua.

— É apenas... — Não conseguia explicar direito o sentimento que sentia.

— Lembra quando estávamos amarradas pela corda e ela estava frouxa? Naquele momento que você resolveu se sacrificar por mim, eu soube que era você! Eu vi em seus olhos. Eu não sou a Fatae por ter me jogado e buscado você. Você é a Fatae por ter dado sua vida por mim, pela sua coragem  — Alpha disse — Eu deveria ter percebido antes, quando você se sacrificou por mim no tanque... Você tem o espírito real, Anala, você não pode ignorar isso! — Disse por fim, abraçando-a.

— Eu só preciso de um tempo pra ligar uma coisa com a outra — Justificou-se, se retirando.

Corriam rapidamente em direção a parte posterior do castelo, se Alpha tinha sido vista no banheiro há pouco tempo, o único lugar que King Dart a levaria, seria para a água. Chegaram a tempo de vê-la sendo puxada para baixo com o rei dos mares e seu filho tritão, da cauda verde, chegando logo depois.

— E lá vão eles — Disse Terrena observando-os fugir com a fada que eles acreditavam ser a Fatae.

— Alpha está em perigo, nós precisamos trazê-la de volta — Anala falou rapidamente.

— Não, se eles descobrirem que ela não é a Fatae, e acredite, isso vai acontecer, uma verdadeira guerra estará prestes a se formar! — Faye retrucou.

— Você querendo ou não eu vou atrás dela. Se eles querem guerra, então eles vão ter, ou eu não me chamo Anala Taroo-Toroon, a rainha do espírito real — Anala disse, olhando a cauda da dupla de tritões refletida na água, já em uma distância significativa. Seus olhos então, mudaram de sua cor normal para branco, um branco fosco e brilhante, como o de uma Fatae.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Capitulo 09 : Verdade

Andava com cautela por detrás do castelo, não queria ser vista pelos guardas da frente e contava com alguma entrada pelos fundos. Pelo caminho de pedras, deu passos singelos com medo de que fosse escutada, mas na verdade, estava uma verdadeira calmaria. Observou as águas da cachoeira caírem riacho abaixo, espalhando-se por todo aquele percurso brilhante. Antes que pudesse fazer mais algum movimento, pode ouvir batidas na água, na qual ela já reconhecia, mas que ainda a assustava.

Observou a cauda negra do jovem tritão que ela sempre encontrava mas que não costumava trocar palavras. Mas desta vez era diferente. Era a primeira vez que eles se encontravam desde que tiveram sua primeira conversa e desde que ela havia se tornado a Fada Rainha da Água. Quando o jovem tritão colocou seu rosto para fora da água, pode ver então a criatura mais bonita que seus olhos já haviam visto. Embora Alpha estivesse acabado de voltar de "viagem", tinha algo nela que prendia sua atenção mais do que antes.

— Inventaram uma máquina do tempo e trouxeram uma versão adulta da fada que eu costumo visitar? — Perguntou ele, observando o corpo de Alpha, que estava mais desenvolvido do que a última vez que ele o vira. Embora não tivesse acontecido em um grande período de tempo, a mudança em Alpha era visível.

— Muitas coisas acontecem quando se torna uma fada rainha — Disse ela com um sorriso no rosto.

— Então é por isso que você não apareceu desde aquele dia? Subiu de vida e esqueceu dos amigos? — Disse ele com um sorriso sacana em seu rosto, o que deixava Alpha quase corando.

— Você está me dizendo que veio aqui todos os dias desde aquele dia? — Perguntou, deixando-o sem reação por um momento. Ele respirou fundo antes de continuar.

— Algo assim — Respondeu, cedendo por fim.

— Isso é legal, mas bom, não dá tempo de conversarmos agora. Eu tenho muito o que fazer — Disse indo pelo caminho das pedras, enquanto o mesmo a seguia com movimentos bruscos na água.

— Talvez eu possa ir com você — Sugeriu. Alpha deu um sorriso debochado antes de continuar.

— Você sequer consegue sair da água e mesmo se saísse existe um limite que as sereias podem ou não atravessar — Disse continuando o percurso. Enquanto caminhava, via a alguns metros a sua frente, dois guardas protegendo a parte posterior do castelo.

— É, cheguei! — Disse para si mesma, convencida. Quando olhou para trás, levou um grande susto ao ver um rapaz completamente pelado em sua frente. Era Elvis, o mesmo tritão que estava seguindo-a, só que ao invés de uma cauda negra, ele estava com um par de pernas. Tapou seus olhos rapidamente, envergonhada — Coloque uma roupa! — Disse, hesitando o tom de sua voz para que os guardas não pudessem ouvi-la, embora desejasse gritar devido a ousadia do tritão.

— Se estar na água era um empecilho, agora não é mais — Ele disse sorrindo, caminhando em direção à mesma, que se virou — E sobre o limite, eu nunca fui de aceitar regras mesmo — Completou.

Mesmo afastado por alguns centimetros, Alpha podia sentir o rapaz próximo dela. Talvez pelo desenvolvimento de suas habilidades em relação a água, que estavam mais aguçados. Ela podia sentir cada gota escorrendo no corpo do rapaz e isso lhe proporcionava sentimentos que ela queria esquecer naquele momento. Levantou uma de suas mãos para o alto e fez surgir um pequeno short de elfo. Curto. Era o único que ela conhecia. O tritão então, o pegou.

— Mesmo assim, essa é uma jornada que eu tenho que terminar sozinha! — Disse, virando-se e vendo o rapaz com o pequeno short verde que sequer passava de seu joelho. Não pode segurar a risada que veio.

— Tá tão ruim assim? — Questionou o rapaz, também rindo devido a peça que estava completamente justa em seu corpo.

— Como eu disse, eu preciso ir — Disse tentando finalizar o assunto de vez e talvez fazer com que ele mudasse de ideia, o que ela sabia que não iria acontecer. Teria que pensar rápido para livrar-se dele.

— Por quê? Eu sou um tritão, posso ser útil seja qual for o trabalho — Argumentou enquanto caminhava com Alpha. A garota não respondia uma palavra do que ele dizia, mas ele podia ver um olhar mais obscuro em seus olhos.

— Na verdade tem algo que você pode me ajudar sim! — Disse Alpha com um sorriso no rosto. Já tinha ideia do que fazer.

— Ficarei feliz em ajudar. O que posso fazer por você? — Perguntou, convencido, esperando algo em que ele realmente fosse bom.

— Correr! — Ele não entendeu — Pega tritão! — Gritou Alpha apontando para o rapaz que se surpreendeu com as palavras que saíram da boca da jovem fada. Os dois guardas que estavam mais próximos, sequer se preocuparam com quem havia gritado. Ao ouvirem a palavra "tritão", mexeram-se rapidamente correndo atrás do mesmo.

— Desculpa — Disse Alpha em voz baixa, para si mesma, enquanto observava Elvis fugir dos dois elfos que o perseguia. Quando teve certeza de ver a bela cauda negra do jovem bater na água, foi que ela por fim, entrou no castelo pela porta de saída. Mas ao entrar, não viu nada de especial. Esperava por um quarto sujo, uma sala talvez. Mas tudo que tinha ali era o escuro e uma escada feita de madeira. Não muito grande, mas o suficiente para alcançar o teto. Subiu os degraus lentamente, tomando cuidado para que não batesse sua cabeça no teto. Esticou sua mão e levemente começou a procurar por algo. Talvez uma alavanca, ou uma alça para puxar.

Caminhavam por um corredor longo. Observavam a riqueza do local. Estavam admirados, embora também sentissem um pouco de desejo de possuir aquilo. Observaram dois elfos passarem rapidamente, e então, se encostaram na parede. Os dois elfos passaram, mas não o viram.

 — Eu não sei porque nós estamos tendo tanta cautela sendo que você pode manipular o suficiente para não sermos vistos o tempo todo — Disse Dioniso, enquanto observava Focus próximo a Trish. O trio andava vagarosamente pelo corredor.

— Eu já disse, eu não vou desperdiçar uma energia que eu vá precisar no futuro! — Disse o rapaz, já a ponto de perder a paciência com o elfo. Foi surpreendido por uma mão em seu peito, impedindo-o de se aproximar de Dioniso, embora não tivesse percebido que estava fazendo-o.

— Ei! Você precisa relaxar — Disse Trish, parando-o. Conhecia o rapaz o suficiente para saber que os nervos dele não podiam ser testados, ainda mais depois do que acontecera no santuário. Havia desgastado um pouco da energia do rapaz, mas também estava mudando-o — Terrena nos mandou para ajudar Alpha, e é isso que vamos fazer, mas com cuidado — Respondeu.

Levantou uma pequena portinhola e pode ver-se então em um outro lugar. Era como o santuário em que ela tinha acordado na Floresta Negra, mas muito mais espaçoso e detalhado. Pode ver os tubos ligados a vários tanques e com várias cabines. Tinha medo do que tanta energia seria capaz de fazer. Olhou para o lado e viu o corpo de Anala, adormecido em um dos tanques.

— Anala! — Correu até a mesma, que parecia estar igual à última vez que a viu — O que fizeram com você? — Olhou a sua volta, reparando o lugar — O que é esse lugar?

— Este é o Santuário Elementar. O lugar mais poderoso de todo o nosso reino — Disse Queen Faye Fairy surgindo repentinamente. Alpha deu alguns passos pra trás, em reflexo — Ah, você não precisa me temer, Alpha. Por quê eu machucaria você? — Perguntou misteriosa, com um sorriso no rosto.

— Você sabe porque. Porque não há guerra. Porque não há sereias atacando. Porque você está tentando se livrar da nova Fatae — Respondeu Alpha, segura de suas palavras. Estava pronta para desafiar a rainha, custe o que custasse.

— Bem... Isso é verdade. Mas nós podemos parar por aqui agora. Você sabe. Anala está morta. Elsie deve ter arregado... Eu e você continuamos no poder e todos os problemas estão resolvidos — Disse pacificamente, tentando convencê-la, embora não acreditasse que fosse fácil de realizar essa tarefa.

— Arregado? Elsie foi mais corajosa do que você um dia foi e será — Disse, agora alterando o tom em sua voz, as luzes do local começaram a piscar e os tubos começaram a dar sinais de falha, estava sentindo um poder maior dentro de si começar a sair — E se Anala está morta, eu tenho certeza que você tem uma porção de culpa nisso.

— Talvez eu tenha, mas e daí? Vocês nunca se deram bem mesmo. Até pelo o que eu me lembro, vocês eram arqui-inimigas antes disso tudo — Disse, provocando e deixando-a mais com raiva ainda.

— Como você disse, era antes disso tudo. Eu duvido que o que ela fez por mim, qualquer pessoa fará por você um dia — Disse, mais exaltada do que estava anteriormente. O local estava começando a se desintegrar, era como se ela estivesse absorvendo toda a energia dali, porém, ela não percebia.

— E o que vai fazer a respeito disso, fadinha? — Disse, provocando-a mais.

Alpha não aguentou, puxou toda a força que sentia fluir dentro de si e a liberou para fora. Esperou ver rajadas de gelo saírem de suas mãos, mas assustou-se ao provocar um verdadeiro vendaval no lugar. Não tinha mais dúvidas de que era a Fatae, por fim, e aquela, era a hora de por tudo para fora. As rajadas de vento iam cada vez mais forte em direção à Queen Faye Fairy, mas ela não se importava, não doía, não machucava, aquilo estava preenchendo-a. Alpha olhou para cima e viu uma enorme luz. Ficou maravilhada com tudo aquilo.

— Todos esses materiais. Eles são simbólicos, não são? Pelo menos aqui sim, eles são. E eu estou dando tudo o que você quer, você está tentando pegar os meus poderes! — Disse, percebendo o truque que Faye Fairy havia armado, o que fez desmanchar o rosto de felicidade da vilã.

Então o escuro tomou conta do lugar. A luz foi apagada. Alpha sentiu uma forte rajada de vento bater em seus ombros e jogá-la ao chão. Com aquela energia desligada, os poderes faziam exatamente o contrário, eles não aumentavam, eles machucavam. Talvez seja isso que o santuário representava, o ataque e a defesa das forças naturais, pensava Alpha.

— Uma pena Anala ter morrido em vão, já que claramente você é a nova Fatae. O que acaba por aqui — Esticou suas mãos para os pontos extremos do lugar, fazendo com que fogo surgisse. Caída no chão, Alpha olhou para o que havia caído de seu bolso. O pequeno pingente que ela pegara de Elsie. Sentiu a fumaça preencher seu interior e se espalhar pelo local. Levantou seus braços na tentativa de fazer água surgir, para que o fogo cessasse, mas não conseguia.

— Você jamais irá fazer uma gota de água cair. Não enquanto a fumaça estiver em contato com a energia do local — Disse aproximando-se da garota, que se arrastava para trás. Queen Faye Fairy olhou no fundo dos olhos da mesma, que temia — E agora eu lhe deixarei aqui, sendo consumida pelo fogo. Quem sabe você não encontra sua amiga do outro lado. Se houver um — Queen Faye Fairy sorriu. Ela se dirigiu até a portinhola e por ali, desceu, deixando Alpha à sua própria sorte naquele local.

— Aonde vocês pensam que vão? — Disse uma voz feminina por trás da voz dos três elementais.

— Nós... — Focus ia responder, quando virou-se, tendo uma grande surpresa — Flânis! Eu disse que era pra você ficar em casa, é perigoso e você ainda não sabe administrar seus poderes — Disse o rapaz, reprendendo a irmã. Quanto mais falava, mais o tom de sua voz subia e mais seus poros trabalhavam.

— É, mas você não manda em mim. Não mais — Disse ela com um sorriso no rosto. Havia algo diferente em Flânis.

— Ok, você pode ficar para ajudar, mas com cautela — Ele alertou. A menina o respondeu com uma gargalhada. Dioniso, Terrana e Focus se olharam.

— Eu acho que ela não está aqui para ajudar — Dioniso disse, estendendo sua mão por trás de suas costas, na tentativa de pegar uma flecha, porém, não havia mais nada em seu estoque. Flânis estava brincando com sua mente.

— O quê? — Disse ele, tentando entender. Focus estava parado, tentava entender o que a irmã estava fazendo, mas nada vinha a sua cabeça. Não conseguia compreender o motivo de sua irmã mais nova, virar-se contra ele.

— O que você está fazendo? — Ele perguntou.

— Ela está do lado de Faye Fairy! — Trish disse — Ela deve ter estado ao lado dela sempre. Desde o que aconteceu com Aryana até a morte de Anala — Disse, conectando um fato com o outro.

— Trish, sempre a inteligente, não é? Vocês todos sempre me subestimaram. Enquanto Faye Fairy não, ela me deu o que eu quis, ela me ajudou a controlar minhas habilidades de forma que nem mesmo você entenderia, irmão — Disse Flânis se aproximando.

Em defesa, Trish se abaixou, levando sua mão em direção ao chão, na tentativa de fazê-lo tremer. Mas não obteve sucesso, ela simplesmente não encontrava o chão, era como se sua mão nunca fosse longa o suficiente para tocá-lo. Flânis estava mexendo com sua cabeça também.

— Você vê? Eu posso controlar não um, mais dois, três, quatro... Eu posso ser maior do que você, Focus — Ela disse, agora em frente ao rapaz.

— Eu sei. Eu sei tudo o que você pode e o que você não pode fazer, irmã. E é por isso que eu estava lhe protegendo. Protegendo de todos os seus poderes.

— Não, você não estava me protegendo, nunca esteve. Você queria ser sempre maior que eu. Para os nossos pais, para toda a nossa família, para o nosso reino... Você sempre foi um egoísta que quis toda a atenção para você. Mas agora, eu também tenho ela voltada para mim.

— Eu não vou machucar você — Ele respondeu, negando-se a entrar em uma batalha contra a irmã mais nova.

— Mas eu vou — E observou o irmão cair no chão. Ele gritava alto e mais alto, sua perna puxava para o lado. Sentia uma enorme dor naquela região. Era como se seus pés tivessem quebrado. Ele estava ali de joelhos em frente à sua irmã — Agora nós estamos na posição que deveríamos estar.

— Eu concordo com você — Disse, causando um olhar de desconfiança em Flânis. Ela recebeu uma grande pancada de Dioniso em sua cabeça, caindo no chão desmaiada. A dor que Focus sentia, desapareceu, rapidamente.

— Esperem! Tem alguém se aproximando! — Focus disse, fazendo com que Trish e Dioniso parassem a caminhada em direção a um dos lados do corredor — É Flânis — Ele disse, ao olhar para seu braço. Seus pelos estavam mais arrepiados do que o normal.

— O que ela quer? — Trish perguntou — Não deveria estar em casa com Terrena?

— Eu não sei. Mas consigo senti-la mais poderosa. Eu não consigo entender, é como se ela tivesse controle de todas as habilidades que nossa espécie possui.

— Como isso é possível? Vocês não a trouxeram justamente por essa razão, por não saber utilizá-los de forma correta? — Dioniso argumentou, tentando entender o que ele queria dizer.

— É, mas ela sabe! E se ela escondeu isso, não deve ser coisa boa. Vão! Saiam daqui! — Eles assentiram, saindo rapidamente. Quando Flânis virou o corredor, viu então, o irmão parado ao lado de Dioniso e Trish. Estava tão obcecada em vingar-se que não percebeu que antes mesmo dela começar a mexer com a cabeça do trio, seu irmão já havia começado há um bom tempo, criando uma falsa imagem de Dioniso e Trish junto a ele.

— Devo admitir, você é bom nisso — Disse Dioniso.

— Cadê Trish? — Indagou, sentindo a falta da fada da terra.

— Ela foi atrás da Alpha, disse que seria mais prático assim — Respondeu, firme.

Focus não conseguiu responder nada, sentiu algo lhe chamar atenção. Olhou para seu braço novamente e viu seus pêlos arrepiados novamente. Teve um pequeno choque em sua cabeça, quase caindo de lado. Ele foi segurado por Dioniso rapidamente.

— Você está bem? — O elfo perguntou.

— Eu estou — Disse, recuperando-se — Eu não sei, parece que desde que entrei naqueles tubos os meus poderes estão ampliados. Consigo sentir fogo, calor, numa densidade maior do que jamais senti e agora, sinto vindo daquela direção — Disse apontando.

— Nós esperamos Trish? Ela está na direção oposta — Explicou.

— Você vai atrás dela! Eu vou ver o que é — Pediu.

— Você está bem? — Dioniso perguntou, educado. Estava preocupado com a saúde de Focus.

— Estou. Só vá buscá-la, por favor! — Ele viu o elfo seguindo em direção ao lugar que Trish foi. Olhou para o chão e observou sua irmã caída, desmaiada. Lamentou. Com um gesto, passou sua mão por cima da imagem que via perante seus olhos, fazendo-a desaparecer. Não queria que ela fosse encontrada pelos elfos de Queen Faye Fairy, ainda tinha esperança de colocar algo dentro da cabeça de sua irmã. E então saiu, indo em direção ao fogo que lhe chamava atenção.

Observou a fumaça consumindo todo aquele lugar. Para ele, não era problema algum. Seus olhos tomaram cores diferentes, transformaram-se em um vermelho vivo. Como uma chama. Assim, pode visualizar o lugar direito e assim, ver Alpha caída, escorada em uma parede. Ele olhou para o corpo de Anala, dentro do tanque, com as brasas ao redor. Para não gastar mais de sua energia, puxou uma alavanca, ativando a energia do lugar novamente. O fogo continuava tão quente quanto a cor de seus olhos, mas para uma Salamandra, não era problema algum. Focus abaixou-se e pegou Anala em seus braços. Seus olhos voltaram a cor normal. Com os pés, empurrou a porta para que pudesse sair, enquanto o fogo consumava o corpo de Anala.

As chamas ficavam cada vez mais intensas a cada minuto que se passava. Tão intensas que poderiam alcançar o teto que depositava a energia elementar daquele lugar. O corpo de Anala estava ali, cheio de queimaduras que começavam a desaparecer aos poucos. O fogo já não machucava sua pele mais, ele a renovava. O corpo de Anala começou a ficar mais quente. Seus olhos abriram.

Havia dado a volta pelo castelo. Um grande público de fadas, gnomos e elfos estava ali lhe esperando. Queen Faye Fairy havia feito uma chamada de emergência, iria tentar manipulá-los.

— Povo de Tuatha de Dannan, como vocês sabem, estamos sofrendo ataques de sereias! Achamos que nossa esperança estava naquelas duas garotas. Mas uma delas está morta, assim como nossa antiga rainha Elsie. O poder subiu a cabeça da outra, que a matou sem dó nem piedade — Arrancou expressões assustadas de todos que ali estavam — Alpha NiHaus está aliada com as sereias, tentando destruir nosso reino. Ela não é como nós. Ela é uma traidora — Disse, convincente. Os demais ali, estavam com o medo visivelmente estampado em seus rostos.

— É tudo mentira! — Disse uma voz grossa saindo por de trás da multidão. Os outros seres começaram a dar espaço para Terrena, que passava confiante do que faria — Alpha NiHaus é uma Fatae. Vocês não devem saber o que é porque Queen Faye Fairy nunca nos disse. Ela tinha um acordo com Elsie para matar todas as fadas que eram descendentes do elemento água e quando chegassem em um ano específico, matariam a nova Fada Rainha do Espírito Real, ou seja, a nossa Fatae — Disse, tomando a frente e encarando-a.

— Como você se atreve? — Respondeu encarando em seus olhos também — Você sabe que não é páreo para mim, Terrena.

— Mas eu sou — Disse Alpha NiHaus surgindo das portas do castelo. Seu semblante estava destruído, fisicamete ela jamais poderia entrar em uma luta com Queen Faye Fairy, mesmo que a mesma também não estivesse tão poderosa quanto antes, porém, mesmo assim a desafiava — Sua energia está se esgotando, Faye Fairy, você não pode lutar com quem está se tornando a nova Fatae. Você não vai aguentar.

— E você pode? Não se esqueceu de onde você acabou de surgir? — Ela respondeu. Todos os seres ali se afastaram, uma batalha estava prestes a começar.

— Eu posso não aguentar também, ambas sabemos que seria suicidio para nós duas... Mas você sabe por quê eu acho que você não vai vencer? Porque eu tenho isto — Disse retirando o pingente do bolso. Ela colocou na palma de sua mão e ele começou a flutuar pelo ar — Eu não sei o que é. Mas Elsie me garantiu que você daria sua vida por isto, que neste pingente contém algo que irá destruir toda a sua reputação. O que seria? Um dossiê? — Mentiu. Faye Fairy não pode negar sua cara de surpresa.

— O que você quer em troca disto? Ser a nova Fatae? Você pode ser — Perguntou, tentando enganá-la.

— Não. Eu quero mais do que isso. Eu quero que você confesse, tudo que você fez, todas as mentiras, armações, as mortes que causou. Tudo!

— Se é isso que você quer. Então está bem — E virou-se, olhando para o seu povo — É verdade. Eu fiz tudo isso. Mas eu me arrependo. Eu estava obcecada pelo poder, mas agora não estou mais! Tudo que eu fiz, foi em vingança. — Foi recebida por grandes vaias de todo o povo de Tuatha de Dannon, eles gritavam pedindo a morte da fada.

— Vingança pelo quê? — Perguntou, querendo obter toda a verdade.

— Por eles terem matado minha mãe. Aqueles tritões, aquelas sereias... Tão manipuladores. Eu não poderia aguentar mais. — Disse, fazendo uma verdadeira encenação.

— Terrena — Ordenou Alpha. Terrena respondeu colocando suas mãos no chão, que começou a tremer no mesmo momento. A terra então obteve uma pequena rachadura. Não tão larga, mas profunda. Alpha levantou o pingente e o soltou no ar, fazendo-o flutuar com o dom do ar que possuía. Ela ameaçava jogá-lo ali.

— Minha mãe estava apaixonada pelo King Dart. Mas eu também estava. Eu já sabia que iria me tornar a nova Fatae, meus poderes estavam se desenvolvendo... Então eu não precisava mais dela. Ela iria morrer de qualquer jeito. Era eu quem estava matando-a, não intencionalmente. Eu não tinha culpa se iria me tornar a nova Fatae. Mas eu tive culpa de ter acelerado o processo. Mas o King Dart também não era uma flor que se cheirasse. Ele queria mãe e filha e eu não pude dar isso, então ele me manipulou. Eu resolvi os dois problemas de um jeito só e então, as fadas daquele ano prometeram guardar o segredo comigo — Agora a multidão estava se aproximando, na tentativa de linchar a Fatae, que estava em lágrimas no chão. Terrena aproximou-se, ameaçando com um gesto de mãos, na tentativa de fazê-los recuar, o que aconteceu.

— Mas eu fui uma boa rainha. Vocês sabem disso! — Finalizou.

— Por sua culpa várias fadas e sereias morreram. Por sua culpa outros seres foram banidos daqui, foram obrigados a passar suas vidas sozinhos, se escondendo. Mas isso acaba aqui. Eu como nova Fatae estou revogando suas leis. Banshees, salamandras, gnomos, duendes, elfos, hárpias e qualquer ser elementar que esteja bem intencionado pode e deve andar pelo nosso reino — Disse Alpha, erguendo sua voz como uma verdadeira líder. A multidão que estava atrás a aplaudiu, a raiva que eles sentiam por Faye Fairy se transformou em excitação pelo discurso de Alpha.

— Agora o pingente — Obrigou Faye Fairy. Alpha sorriu. Ela caminhou até a mesma e lhe deu a mão, para que ela levantasse. Faye Fairy ficou de pé. Ela pegou o pingente em sua mão.

— É todo seu — Disse Alpha, entregando-o.

— Obrigada por cumprir sua parte do acordo. Agora é a minha vez de cumprir a minha. Eu não disse toda a verdade. Na verdade, meu povo de Tuatha de Dannan, houve um pacto, há três mil anos atrás, quando eu fui coroada. Esse pacto foi selado por magia ancestral, que é exatamente o que eu tenho nesse pingente — Disse virando-se com um sorriso no rosto, espantando a todos — Desculpa acabar com os seus quinze minutos de Fatae, Alpha, mas com essa magia, eu continuo sendo a rainha de tudo isso aqui. Eu continuo vencendo.

— E é por isso que você nunca vai vencer, Faye Fairy. Porque você não pensa. Não há pingente ancestral. Elsie te enganou todo esse tempo. O que você tem aí não passa de um simples pingente de cristal e agora, você revelou quem você é. Não a fada que matou a mãe por se sentir ameaçada. Mas sim uma assassina obcecada por poder — Disse, com um sorriso no rosto, vendo o de Faye Fairy se desmanchar. A mesma logo levantou o pingente aos céus, tentando usar magia, mas nada acontecia. Ela pegou o cristal e jogou no chão, quebrando-o.

— Agora, você irá ficar presa e irá pagar por tudo que fez — Disse Alpha.

— Não, ela não vai — Falou uma voz que saía das portas do castelo. Alpha se virou e não pode acreditar no que seus olhos viam. Ali estava a garota que deu a vida por ela. Tão cheia de vida. Os tons azuis-escuros em seu corpo estavam cada vez mais brilhantes, assim como seu semblante.

Esticou as mãos em direção a Queen Faye Fairy, até levitá-la. Estavam todos chocados com a cena que estava acontecendo. Lentamente, foi fechando suas mãos, com a raiva exposta em seus olhos. Estava furiosa, mas não só isso, estava poderosa. A terra começou a tremer e o pequeno espaço feito por Terrena se tornou uma grande abertura, separando dois lados enquanto Faye Fairy flutuava pelo vácuo que ficava em baixo.

— Anala? Você está viva? O que está acontecendo? Solte-a. Não é assim que resolvemos as coisas — Disse Alpha, sentindo uma verdadeira confusão de sentimentos dentro de si. Queria abraçar a amiga, mas também impedi-la fazer alguma besteira.

— Errado, Alpha. Não é assim que você resolve as coisas. Mas é assim que eu resolvo — Quando estava pronta para finalizar o serviço, recebeu uma grande pancada em sua cabeça, caindo no chão imediatamente. Alpha viu e a tempo, segurou Faye Fairy no ar. Terrena se pôs ao chão, unindo as terras novamente.

— Eu já estou virando expert nisso — Disse Dioniso com um sorriso no rosto.

— Por essa eu não esperava! O que aconteceu? — Alpha perguntou, confusa com toda a situação, e por fim, soltando Faye Fairy.

— Foi o santuário do nosso reino! Quando vocês trocaram energia, havia uma grande possibilidade de você adquirar os poderes de Anala por um bom tempo — Disse Terrena.

— Então ela é a Fatae, não eu! — Disse Alpha, espantada.

— Não sabemos. Pode ter sido o contrário também. Ela pode ter pegado os seus. Eu só não entendo como ela voltou a vida — Disse, com dúvidas.

— Eu acho que sei como — Alpha disse — Quando Focus me salvou, ele ligou a energia do Sant... 8-13-17-22! Anala estava ali e o fogo provavelmente foi intensificado em uma temperatura tão grande que a trouxe de volta à vida. É a única explicação cabível.

— Isso é possível, Faye? — Perguntou Terrena, observando a ex-Fatae que estava caída no chão, ainda com dor.

— Eu nunca ouvi falar. Mas o nosso santuário é o único lugar em que temos energia ancestral. Com certeza deve ser capaz de fazer algo assim — Disse, com dificuldade.

— Se tinha energia ancestral ali, por quê se importar com o pingente? — Ela perguntou.

— Porque a energia fora daquele lugar não funciona. Toda a energia ancestral que ali tem, não pode ser sintetizada — Explicou Terrena.

— Então agora, nós iremos ficar com duas Fataes? Parece que voltamos no zero a zero — Disse Dioniso.

— Não existe uma coroação para isso? Digo, na primeira vez, deve ter ocorrido algo para definir quem tinha tamanho poder — Perguntou Alpha.

— Existe. Mas a única pessoa que pode fazê-lo está caída em nossa frente — Disse Terrena.

— Eu não posso fazê-lo! Eu soube que era Fatae porque os poderes se manifestaram em mim, mas minha mãe fez o teste — Disse a ex-Fatae.

— Então, qual era o teste? — Alpha perguntou.

— Por quê eu ajudaria vocês? Vocês obviamente irão me por numa jaula e me deixar presa até que minhas forças se acabem. Se você não o fizer, ela fará — Disse, referindo-se a Anala.

— Não se eu for a Fatae! Você precisa nos ajudar — Pediu Alpha.

— Mesmo se eu quisesse... Minha mãe nunca me explicou como funcionava — Disse ela, desapontando a todos.

— Então, se a única pessoa que podia nos ajudar, não sabe como resolver a situação, isso significa que você e Anala terão que dividir o trono — Terrena disse, concluindo.

— Não, Terrena. Talvez há alguém que saiba. Alguém tão antigo quanto a mãe de Faye Fairy — Alpha disse, deixando todos surpresos.

— Quem? — Perguntou Terrena, curiosa.

— O King Dart — Ela disse, certa do que falava. Sabia que se a única pessoa que pudesse realizar o teste, era ele. Mas após três mil anos banido, como estará a mente do rei dos oceanos por agora? Não era uma pergunta que rondava só na cabeça de Alpha, mas de todos ali — O King Dart pode nos ajudar — Enfatizou, finalizando.