quarta-feira, 2 de julho de 2014

Capitulo 04 : Medo

— Banshees? Elas existem? — Alpha ainda não estava acordada direito, enxugou os olhos e prestou mais atenção. Perguntava sobre as Banshees, já ouvira há muito tempo as lendas sobre elas: são as fadas-ceifeiras, porém, jamais acreditou que uma existisse de verdade ou que a encontraria tão cedo em sua vida.

— Sim, elas são reais! Mas não são como a lenda diz — O elfo disse, deixando mais dúvidas nelas.

— E são como então? — Foi a vez de Anala perguntar.

— Piores — Respondeu, aflito. Eles correram rapidamente para juntar suas coisas, porém, Alpha não teve escolha, juntou tudo magicamente novamente, causando olhares raivosos em seus colegas. Ela estava viciada naquilo.

— Não olhem pra mim com essa cara! Vamos logo, não queremos ser mortos por essas criaturas horrendas! Não temos tempo a perder! — Disse quase gritando, com o medo em sua voz. Não teve resposta, apenas os passos de seus amigos lhe seguindo, floresta a dentro.

— Para onde vamos agora? — Anala estava em dúvida.

— Shh! — Dioniso fez em sinal de silêncio, ainda não estava certo de que as Banshees teriam ido embora. E sua teoria foi confirmada quando mais um grito foi ouvido, não longo quanto os primeiros e sem ecos.

— Vocês ouviram? — Alpha estava visivelmente preocupada, sabia o que aquilo significava — Elas estão se aproximando!

— Eu não estou entendendo! — Anala estava nervosa e logo começara a chorar, temia por sua vida.

— É simples, Anala! Banshees são as fadas ceifeiras, elas ficam aqui na Floresta Negra anunciando a morte das próximas fadas... As fadas que a virem, morrem — Disse colocando mais dúvidas na garota.

— Nós não vimos ninguém! Você viu, Alpha? — Perguntou, ainda em prantos.

— Não. Mas a partir do momento que seus gritos perdem a intensidade, significa que ela está se aproximando de sua vítima — Respirou antes de dizer suas próximas palavras — Uma de nós vai morrer.

O drama poderia continuar se mais um grito não fosse ouvido. Novamente, menor que o anterior. Eles soltaram seus suprimentos e assim, correram. Mas não tinha para onde ir, acabaram perdendo-se de sua trilha e apenas enxergavam árvores mortas, essa era exatamente a intenção das banshees, deixar suas vítimas perdidas na floresta negra.

— Aonde nós estamos? — Alpha perguntou para Dioniso, que parecia não saber a resposta.

— Eu.. Eu... Não sei ao certo — Ele estava confuso, já passara pela floresta, mas jamais visitara aquele lugar. Era diferente.

— Espere, os gritos pararam! — Já havia um bom tempo que os gritos haviam parado e Alpha percebera isso. Pensou que a Banshee talvez já estivesse encontrado sua vítima, que não fosse nem ela nem Anala.

— Será que ela foi embora? — Dioniso perguntou.

— Não, ela não foi — Anala respondeu e era possível ver o medo em sua voz.

— E como você sabe? — O elfo temia pela resposta.

— Porque ela está me tocando — Respondeu soando frio, logo, sendo jogada para uma árvore, aonde caiu desmaiada.

— Anala! — Alpha gritou. Ergueu suas mãos e fez bola de água, congelando-a posteriormente. Jogou na direção que ela pensou que a Banshee estava, mas atingiu apenas o chão a alguns metros, não tinha força suficiente pois não estava em contato com o elemento.

— Pare! — O elfo exclamou — Deixe que ela faça seu trabalho.

— O que? Você está pedindo para simplesmente morrermos? — Estava indignada com o que o rapaz havia proposto.

— Ela não vai embora até achar sua vítima. Se for uma de vocês ela vai matar mais cedo ou mais tarde! A melhor opção é rezar para que não seja! — Disse.

Alpha consentiu, tinha medo do que estava fazendo. Ficou parada. Ouviu ruídos a sua volta. Poderia sentir que ela estava se aproximando, mas não podia vê-la. Várias lágrimas começaram a escorrer seu rosto e o medo tomou seu corpo. Sentiu a mão da banshee tocar seu ombro e era como se a morte estivesse dentro de seu corpo. Estava em pânico. A última coisa que viu foi o rosto de Dioniso, visivelmente preocupado ao ver ela ser jogada para uma outra árvore.

Abriu os olhos assustada, o último rosto que vira, foi o mesmo que viu ao acordar, agora com uma expressão mais preocupante. Sentiu um enorme clarão entrar em seus olhos, mas não acreditara que seria possível, afinal estava na Floresta Negra, aonde não há luz. Apenas tampou o clarão com a mão sem observar direito a paisagem.

— O que aconteceu? — Disse cuspindo fora a água que o elfo lhe dera em um cantil. Ela começara a tossir e por isso não conseguia engolir.

— Calma! Está tudo bem! — Ele disse — Você apenas desmaiou.

— E a Anala, como está? — Perguntou, também estava preocupada com Anala, mesmo ela sendo sua "rival", começara a ter um sentimento amigável pela garota.

— Ela está bem, acordou já tem um tempo e saiu para procurar o que perdemos — Disse, colocando água em sua boca novamente — Devagar.

— E a banshee? Para onde ela foi? — Perguntou, ainda estava preocupada com a possibilidade dela voltar.

— Como eu disse, ela não encontrou sua vítima aqui. Provavelmente foi alguma fada que estava perto de nós — Explicou, tranquilizando-a. Conseguiu convencê-la de que tudo estava bem, e logo, ela se levantou, meio tonta devido a pancada que havia recebido.

— E onde estamos? — Só pode ver a paisagem agora, estava fixada demais nos olhos de Dioniso. Ao seu redor, o que parecia ser a Floresta Negra durante a noite, era um verdadeiro deserto durante o dia. Tão quente que seria possível queimar os pés de alguém que passasse descalço por ali.

— Estamos no mesmo lugar. Mas essa floresta tem dois fusos. No primeiro fuso, habitam as criaturas da noite, sombrias e temidas. No segundo fuso, habitam as criaturas do fogo. Como você pode ver, o lugar se parece com um deserto — Disse, mostrando o lugar pra ela.

— Como você sabe se nunca esteve aqui? — Questionou, era inteligente o suficiente para perceber se ele mentiria ou não.

— Você está certa. Nunca estive aqui durante o dia. Mas não quer dizer que eu não saiba o que é este lugar.

— Aqui está sua mochila, orelhudo! — Disse Anala, revoltada como sempre, jogando a mochila de suprimentos do rapaz, saíra para procurar enquanto Alpha ainda estava dormindo.

— Obrigado! — Agradeceu com um sorriso no rosto. Virou-se e caminhou — Vamos? — Chamou as duas. Elas se olharam, não entendendo nada.

— Pra onde? — Alpha questionou.

— Eu não conheço este lugar durante o dia. Mas há quem conheça. A Fada Rainha do Fogo, então vamos até ela.

— É seguro? — Anala perguntou, estava cansada de ser perseguida por monstros.

— É o que vamos descobrir — Respondeu ele.

Caminharam pelo deserto, visivelmente estavam cansados, o calor ali era demais. Jamais acreditariam que aquele lugar seria a floresta serena e obscura que ali ficava durante a noite, se não estivessem ali, vivenciando o que acabara de acontecer. Mas para sua infelicidade, eles não viam nada além de árvores mortas e muito chão para andar.

— Não dá para irmos, é muito longe! — Disse Anala, sabia que o lugar era longe demais.

— Não temos outra opção — O elfo respondeu.

— Na verdade temos — Disse Alpha — É muito longe, não dá para irmos, vamos voando — Ela disse com um sorriso no rosto.

— E eu? Se vocês não perceberam eu não posso voar — Disse, aborrecido.

— Dioniso, acho que sua jornada termina aqui — Alpha dizia, ficando desesperançosa com a situação em que eles se encontravam. Tinha gostado da companhia dele.

— Queen Faye Fairy ficará desapontada comigo! — Disse, resmungando.

— Nós protegemos você — Anala respondeu, com um sorriso no rosto. Ele retribuiu. Alpha já havia percebido o "clima" entre os dois.

— Nós precisamos ir — Disse Alpha, interrompendo-os — É melhor nos apressarmos, pois Elsie precisará de nós!

— Certo, vamos! — Anala concordou.

As duas deram um abraço em Dioniso que estava cabaisbaixo.

— Quando vocês tiverem voando, encontrarão um castelo de pedras, a noite ele é escuro, eu não sei como ele é de dia, mas vocês provavelmente saberão. É isso, meninas, boa sorte! — Disse acenando para elas, nada contente com aquilo, tinha medo que algo acontecesse e que ele fosse responsável por aquilo.

O elfo apenas viu dois belos pares de asas em sua frente. Um azul escuro com tonalidades pouco claras. O outro branco com tonalidades prateadas. Ambos claros, fortes e vivos. Observou as duas se levantarem aos céus e voarem, até procurar seu caminho de volta para o bosque.

— Você consegue ver alguma coisa? — Alpha perguntou para Anala que olhava na direção oposta, a procura de um castelo.

— Não, nada — Respondeu. Elas continuaram sobrevoando sobre o lugar, em uma velocidade considerada rápida, mas parecia que aquele enorme vácuo não tinha fim.

— Estou cansada! — Disse Anala, elas já passaram um bom tempo voando e agora sentira suas asas pesarem mais do que o normal.

— Não vai fazer diferença — Alpha disse com um sorriso no rosto, sabia para onde estava olhando.

— Por quê? — Perguntou Anala.

— Porque chegamos — Respondeu, apontando para a direita, aonde havia o mesmo castelo escuro de pedras que Dioniso havia citado. Porém, desta vez ele estava luminoso pela saída de magma que proporcionava um alaranjado brilhante entre as divisórias das pedras.

— É lindo! — Anala estava fascinada.

— Vamos! — Disse abaixando suas asas, sendo acompanhada por Anala. Elas caminharam até chegar na porta, estavam estranhando aquilo — Eu achei que aqui fosse um reino, não deveria ter criaturas de fogo por aqui? — Perguntou Alpha, estava confusa com tudo aquilo. Pensava que um lugar tenebroso deveria ser mais "popular".

— Eu absolutamente não quero ver um monstro de fogo na minha frente, mas fique a vontade para procurar — Anala respondeu sarcástica, recebendo um sorriso que formou duas covinhas no rosto de Alpha. Elas bateram na porta do castelo e ele logo se abriu.

— Olá, garotas! A que devo a honra? — Disse um rapaz normal, que estava usando apenas uma túnica em seu corpo, claramente feita pela pele do que elas imaginariam ser um dragão. O rapaz era loiro, musculoso e alto. Deu um grande sorriso para elas, que adentraram no castelo.

— Quem é você? — Perguntou Anala, bravamente. Ela ouviu o bater das portas do castelo e estremeceu, mas tentou parecer o mais calma que pudesse parecer, embora não estivesse.

— Relaxa aí, baixinha, não vai querer me confrontar, não é? — Ele olhou nos olhos azuis de Anala, e ela pode ver as chamas em seus olhos. Ele já havia sentido o medo da garota e estava querendo provocar mais. Gostava de proporcionar essa sensação, mas além disso, gostava de senti-la.

— Nós precisamos falar com a Fada Rainha do Fogo — Disse Alpha, que diferente de Anala, não o temia.

— Bem, parece que ela não pode atender agora — Disse o rapaz aproximando seu rosto de Alpha, estava tentando amedrontá-la.

— E como você sabe se você nem perguntou? — Ela respondeu com a mesma audácia dele, não tinha medo de criar uma briga ali mesmo. Isso o enfurecia.

— Depende de quem vocês sejam — Ele disse, se afastando.

— Nós somos as rainhas da água — Ela respondeu sem pensar duas vezes.

— Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara. Não existem "Rainhas da Água", existe "Rainha" No singular. Então não tentem me enganar.

— Não estamos tentando te enganar — Disse Anala, falando quase baixo, porém, não foi o suficiente para ele.

— Guardas! — O rapaz chamou.

Elas sequer tiveram tempo de reagir. Somente observaram quatro monstros horríveis se aproximarem. Eram como se fossem macacos voadores. Com pelos longos e avermelhados, um par de asas grandes, um rosto amedrontador, unhas longas e afiadas e claro, a ponta do rabo que pegava fogo. Não tiveram dúvidas ao vê-los. Pelas lendas, elas os conheciam como Flâmines.

Nenhum comentário:

Postar um comentário