sexta-feira, 25 de julho de 2014

Capitulo 06 : Sacrifício

– Finalmente acordou! – Disse Anala, visivelmente com raiva. Não tinha ido com a cara daquela fada e aquela primeira impressão não mudaria tão rápido.

– Desculpe fazê-la esperar... Mas sabe como é, meu sono é de pedra – Respondeu irônica, pois esperava uma reação mais animada da dupla, ou até mesmo uma reação digna de súditos para uma rainha, o que certamente não aconteceu – Agora respondam minha pergunta.

– Não estamos indo a lugar nenhum – Disse Anala, firme.

– Sim, estamos – Dioniso respondeu – Vamos sair dessa floresta, deserto ou o que for essa coisa maluca que seja essa parte do reino!

– Vocês podem ir embora, mas vão sem nenhuma resposta para as perguntas que eu sei que vocês têm – Disse provocativa. Não deixaria eles irem embora, pois também tinha perguntas, mas queria que eles pensassem que tivessem a opção.

– Ótimo, vamos – Disse o elfo, sendo parado por Anala posteriormente.

— Já disse e repito, não vamos a lugar nenhum. Eu tenho muitas perguntas — E caminhou até a mesma.

A Fada Rainha os guiou até uma sala em especial, mais luxuosa do que o local em que eles estavam. O local, ainda como o anterior, era constituído por pedras com camadas de lavas, porém, nesta área havia traços mais dourados dando a impressão de riqueza. A fada pegou Alpha em seus braços e a colocou em um sofá. Pegou alguns lenços e a cobriu.

— Flânis, traz um chá de ervas — Ordenou à garota salamandra, que assentiu, se retirando. A fada sentou em um trono, esperando que as perguntas começassem.

— Acabou a apresentação? — Dioniso perguntou, era ele quem estava com raiva agora. Não possuía confiança nenhuma naquela fada.

— Sua amiga vai ficar bem. Flânis vai me trazer um chá especial que vai reativar as forças dela. Eu sou Terrena, fada responsável pelo elemento terra, como vocês podem perceber — Iniciou a discussão, ao perceber que eles não fariam o mesmo.

— Anala. Eu e a Alpha fomos coroadas as rainhas da água desta geração — Disse, apresentando-se também — E esse é o Dioniso.

— Como assim, rainhas da água? Duas? — Jamais tinha ouvido falar em algo igual. Estava apenas mais curiosa em relação à dupla que chegou em seu reino.

— Não sabemos o que aconteceu, mas aconteceu. Elsie foi envenenada, acreditam que foram as sereias... E as geleiras estão derretendo, então precisamos manter o equilíbrio ambiental antes que isso aconteça ou pode ser o fim de algumas criaturas — Explicou.

Terrena se levantou ainda desconfiada. Foi até Anala e a encarou face a face. Anala sentiu seu coração acelerar, mas não tinha nada que ela pudesse fazer, estava em uma área que ela não tinha controle e tudo que ela podia fazer era esperar a boa vontade alheia. Terrena, por sua vez, viu a verdade nos olhos de Anala e voltou a seu posto.

— Bem, Ana... Anala. Nós já sabemos disso, também sofremos com o ataque das sereias já tem dois dias.
— O que aconteceu? – Aproximou-se, preocupada.

Era uma noite como qualquer outra. As fadas Terrena e Aryana, esta última, a fada rainha do Fogo, estavam em uma grande mesa de jantar. Cada uma em uma ponta e em cada lado, seres de seus elementos, incluindo Trish, Flânis e Focus. Aryana levantou sua taça e com um sorriso flamejante ergueu sua voz.

— Desejo-lhes uma boa noite, criaturas do fogo e da terra, que... — Foi interrompida por gritos. Não gritos de uma fada banshee, mas de uma fada comum que provavelmente havia perdido sua vida. O grito da fada ceifeira foi ouvido em seguida. A felicidade que estava na mesa virou pânico imediatamente.

Uma mulher entrou imediatamente. Estava seminua. Tinha cabelos verdes, claros e longos que iam até a parte de seus seios, cobrindo nas pontas. Já mais abaixo não havia nada, ela estava completamente nua.
— Flânis — Disse Terrena imediatamente. Flânis preparou-se para atacar a mulher.

— Os truques de uma salamandra não funcionam em mim, vocês já deveriam saber — Ela caminhou pela sala do jantar. Passou pelo primeiro Elemental, era um homem com pelos em todo seu corpo e um par de asas marrom. Também tinha garras em seus dedos. Quando viu as belas curvas da moça se afastar alguns centímetros, não pensou duas vezes. Cravou suas unhas nas costas da mulher. Ela virou-se imediatamente e o encarou. Não demonstrou nenhuma reação em relação ao que sofrera anteriormente, era como se ele tivesse lhe feito carícias e não lhe atacado.

— Eu não me lembro de ter pedido cosquinhas. Porque foi o que eu senti — O agarrou pela garganta e o levantou sem nenhum esforço. Tinha a força dentro de si e isso deixava todos impressionados, jamais ouviram algo a respeito sobre a força de sereias. Com apenas um movimento, virou o pescoço do rapaz e o soltou, deixando-o cair morto no chão. Todos ficaram assustados, principalmente as fadas rainhas.

— Mais alguém? — Perguntou, olhando a todos. Obteve o silêncio como resposta. Aryana e Terrena não sabiam o que fazer, elas estavam em desvantagem na própria terra — Ótimo — Disse, continuando seu trajeto pelos seres elementais.

— O que você quer? — Perguntou Aryana.

— Eu quero um trato. Com vocês. Em breve esse reino será nosso, das sereias. E tudo que vocês construíram vai ir água abaixo. Então eu quero saber de que lado vocês estão.

— Então você vem aqui para fazer uma simples pergunta idiota como essa? — Disse Terrena, levantando-se de sua cadeira. Estava furiosa com a audácia da sereia. Não havia apenas invadido seu reino, mas como havia matado uma criatura da Terra, na qual ela era responsável.

— Você deveria me agradecer por eu estar lhe oferecendo uma oportunidade — Disse, reclamando, indignada que a mesma recusou sua proposta.

— Bem, se alguém nessa mesa quer trocar de lado, que se manifeste agora — Disse a fada rainha da Terra. Como ela imaginava ninguém se manifestou o que causou raiva na sereia intrusa.

A sereia sorriu — Imaginando que isso aconteceria... Eu trouxe auxílio comigo. Podem entrar — Três rapazes bastante fortes, também despidos, entraram no local — Se vocês não querem se juntar conosco, então irão sofrer em nossas mãos. É com vocês, meninos — E deu as costas, saindo do local.

— Então ela matou todos os outros? E por que vocês ficaram vivos? — Anala indagou.

— Acreditamos que ela esteja com Aryana e queira usá-la para nos levar a seu lado, ela sabe que nem todas as sereias são fortes o suficiente para lidar conosco e precisa de fadas vira-casaca ao seu lado. Os outros nós apenas vimos virar cinza em nossa frente.

— Então por isso aquele cheiro de fumaça no outro quartinho? — Perguntou.

— Não é um quartinho. É um santuário. Todos os elementos possuem um. Queimamos todos os que morreram no massacre lá. Não havia mais o que fazer.

— Por que fizeram isso lá? — O elfo agora, estava curioso também.

— Para manter a energia do local — Observou Flânis voltar com o chá e se dirigiu até a mesma — Obrigada! — Flânis sorriu. Terrena foi até Alpha que estava ainda deitada. Ergueu sua cabeça de leve, para que pudesse beber o liquido e lhe deu em poucas doses.

— Por que você está tratando dela tão bem? — O elfo perguntou. Terrena, por sua vez, sorriu. Estava gostando de ver a indignação do rapaz.

— Porque infelizmente temos um rapaz afobado nesse reino. Focus é um bom defensor, mas às vezes passa dos limites. Desculpem-me por ele, mas depois do que aconteceu, é justificável uma atitude assim com desconhecidos – Explicou. Terminou de dar o chá para Alpha. Guardou a taça e levantou-se.

— Em quanto tempo ela melhora? — Anala perguntou, ignorando o pedido de desculpas.

— No máximo até amanhã — Respondeu a fada rainha.

— Como assim até amanhã? Não tem nada mais instantâneo? Até amanhã muita coisa pode acontecer! – Disse Anala indignada.

— É um chá natural, não os tecidos de Jesus — Respondeu ironicamente. Anala não estava convencida de que ela estava dizendo toda a verdade.

— Ok, tem algo que pode ser feito sim. Mas requer um nível grande de energia, eu não sei se você tem o suficiente para ajudá-la e continuar bem. — Disse a fada.

— Não importa, se alguém vai conseguir finalizar essa jornada, não vai ser eu — Disse Anala, disposta a sacrificar-se.

— Anala — Dioniso reagiu surpreso. Não estava acreditando no que estava prestes a acontecer.

— Eu a abandonei... Eu devo isso a ela — Disse, encorajando-se — Então, como fazemos?

— Você tem certeza? — Dioniso perguntou novamente. Pelo pouco que sabia, Anala e Alpha antes da viagem eram rivais e não amigas a ponto de uma dar a vida pela outra.

— Eu farei o que for melhor para o nosso reino. É o que as rainhas fazem — Disse Anala, segura, botando um ponto final na conversa. Não mudaria de opinião.

— Elfo, vá até a caverna e busque Trish, vou precisar da ajuda dela. Flânis chame o seu irmão também — A dupla assentiu e seguiu em direções opostas — Venha comigo, garota, irei te levar para um lugar especial — Disse, pegando Alpha em seu colo novamente e guiando Anala para outra direção.

Apertou o botão que estava afastado das grades e pode vê-las subirem lentamente. Por trás dele, a garota desmaiada devido a uma pancada que levou recentemente. Se abaixou na altura da mesma para verificar se ela estava bem.

— Trish, acorda! Acorda! — Disse dando tapinhas de leve em seu rosto. Tentava acordá-la de todas as maneiras, mas não tinha sucesso. Sentiu o corpo dela se esfriar a cada momento que passava e percebeu que não tinha opção.

— Me desculpe por isso — Despiu a garota. Colocou suas mãos em seu corpo e fechou os olhos. Pelas suas mãos, rajadas de calor saíam, se espalhando por todo o corpo de Trish, que se tornou um percurso de brasas rapidamente. Era como se as veias em seu corpo se tornassem fogo por alguns instantes, como um farol de linhas, suficiente para iluminar todo aquele local escuro. Ele pode ver a parte posterior da caverna com mais clareza. Observou alguns rabiscos, provavelmente feitos por alguns prisioneiros anteriores. Percebeu que estava desconcentrado e voltou a meditar. Focus estava tentando restaurar a temperatura da garota.

— O que aconteceu? — Disse após dar um suspiro longo e sufocante. Trish havia levantado e ainda não notara a situação em que estava.

— Os invasores fugiram, não sei como te golpearam — Respondeu, dessa vez mais compreensível do que aparentava ser.

— Por que eu estou pelada? — Disse olhando para si mesma, quando finalmente caiu em si, percebeu o que tinha acontecido — Seu tarado! Se aproveitando da situação para abusar de mim – Levantou-se rapidamente e colocou suas vestes. Sabia que ele tinha ajudado-a a melhorar, mas não abaixaria a guarda.

— Desculpe, eu... — Não teve tempo de continuar, pois logo ouviu a voz de Dioniso que chegara procurando por Trish.

— Terrena está chamando você, se você for a tal Trish — Eles não questionaram, apenas seguiram em frente.

— De onde eu conheço você? — Trish perguntou, sentindo uma vibe familiar vindo do rapaz.

— Lugar nenhum — Respondeu temendo que ela soubesse o que aconteceu.

Com a garota desmaiada em seu colo, utilizou dos pés para chutar um par de portões. Guiou Anala que continuava seguindo-a em silêncio. Observou uma sala incomum ao entrar, parecia um laboratório de cientistas avançados. Havia dois tanques feitos de vidros, conectados um a o outro e ligados a várias cápsulas, parecidas com as de coroação que ela esteve há poucos dias, porém, vazios.

— O que é isso? — Indagou. Estava curiosa e fascinada pelo lugar.

— É um terço da nossa fonte de poder. Mais conhecido como 8-13-17-22 — Se dirigiu a um dos tanques e ali mergulhou Alpha. Para Anala, as coisas começavam a fazer sentido — Com ele mantemos o equilíbrio do reino. Podemos usá-lo para restaurar a força vital da sua amiga, mas como toda a energia, ela precisa ser reposta... E é aí que você entra.

Anala caminhou pelas cápsulas imaginando o que aconteceria ali — São canalizadores de energia. Elas dão a energia do Elemental necessária, se receber de volta — Disse Terrena. Focus, Trish, Dioniso e Flânis, que encontrara com eles no caminho chegaram. Terrena os viu entrar.

— Focus, eu vou precisar de um pouco da sua energia para ajudar a garota — Pediu Terrena poupando apresentações.

— Tudo bem – Concordou sem relutar.

— Eu não acho que seja possível. Eu estava desmaiada, ele acabou de me acordar. Vai gastar muito mais dele! — Trish disse repentinamente — Flânis está ótima, use-a — Estava visivelmente indignada com o pedido.

— Focus, se você não estiver pronto, tudo bem, mas você sabe que sua irmã não tem controle — O rapaz assentiu. Sabia que seria mais perigoso para a irmã do que para ele. Focus podia brincar com a mente de centenas de seres ao mesmo tempo, mas sua irmã era mais fraca, só tinha técnica de truques pequenos como uma algema de fogo.

— Eu vou — Disse botando um ponto final no assunto — Eu peguei muita energia do medo dela, tenho de sobra – Finalizou.

— Ok, entre em uma das cápsulas. Anala, você vai entrar no segundo tanque.

— Tudo bem — Ela subiu por uma escada de três degraus e entrou no tanque. Estava preparada para mergulhar de cabeça. Olhou para o lado e viu Focus entrar em uma das cápsulas que estavam ligadas ao tanque. A porta de vidro se fechou para o rapaz. A situação era desconfortante para todos ali presentes. Flânis queria se voluntariar. Focus não tinha escolha. Trish não gostava da forma que Terrena havia empurrado-o para a tarefa. Dioniso sequer gostava de Terrena e Anala, por sua vez, estava assustada.

— Por que você não entra ali dentro também? — Dioniso indagou, sempre provocando a fada rainha da terra. Não ia com a cara dela de maneira alguma.

— Meu elemento é a terra. Só iria piorar a situação — Terrena sempre respondia as provocações do jovem elfo com um tom desafiador, sabia que ele estava tentando desmoralizá-la. Tinha uma resposta para tudo que ele perguntasse.

— Vamos torcer para isso dar certo — Disse Anala, que mergulhou no tanque de uma vez.

— Está na hora — Disse Terrena. Ela foi até uma alavanca que estava para cima. Ela a puxou para baixo. Imediatamente os tubos que ligavam as cápsulas de vidro encheram-se de cor rosa. Era a energia que saía de Focus para o tanque com as duas. A água, rapidamente tornou-se da mesma cor.

— É suficiente, não? — Perguntou Trish, inquieta e claramente preocupada com Focus.

— Ele sabe o que está fazendo — Terrena respondeu. Ela via o rapaz dentro da cápsula, controlando a quantidade exata de energia que deveria sair de seu corpo. A cápsula não canalizava toda sua energia a menos que ele permitisse.

Dioniso também pode ver a energia de Anala se espalhando pelos outros tubos — Para onde vai toda essa energia? — Questionou, agora não tão desafiador quanto antes.

— A energia de Focus passa para Alpha. Anala divide sua energia entre Alpha e os tubos, que espalham a energia de volta a natureza. É necessário porque os tanques em si já possuem uma energia a ser mantida, e quando usamos para rituais como esse, acabamos gastando demais e não há muito tempo para recebermos ele de volta — Explicou. Percebeu que era tempo suficiente para finalizar o ritual. Foi até a alavanca e a levantou novamente. A porta da cápsula de Focus se abriu. Trish e Flânis foram até o mesmo, ajudando-o a sair.

— Você está bem? — Perguntou a fada morena.

— Você está preocupada comigo? — Perguntou, com um sorriso sarcástico em seu rosto.

— Foda-se — Soltou o rapaz, deixando-o apenas com Flânis. Ele riu e ela saiu invocada.
Abriu os olhos e tudo que pode ver foi um claro e demasiado branco. Era iluminação do local em cima de sua cabeça. Olhou para o lado e pode ver que estava presa em um tanque cheio de água. Se seu cérebro não lhe lembrasse que ela era a rainha da água, certamente teria entrado em pânico nesta hora. Levantou-se rapidamente dando um suspiro longo.

— O que eu perdi? — Alpha perguntou, estranhando toda a situação. Ficou em pé e saiu do tanque, sendo recebida com uma toalha que Terrena colocou em seus ombros logo em seguida.

— É uma longa história — Dioniso respondeu. Ele cruzou seus braços, esperando que Anala acordasse. Mas não obteve o que queria. Ela continuou ali, parada, inconsciente.

— Não era pra ela ter acordado? — Perguntou o elfo. Terrena não respondeu, sabia que ele estava certo. Após Alpha, era a vez de Anala acordar e isso não estava acontecendo. A fada rainha da terra recebeu um empurrão em seguida. Ele estava visivelmente alterado. Foi segurado por Alpha, que ainda estava confusa com toda a situação.

— Por que ela não acorda? — Perguntou, sendo puxado para trás pela fada de cabelos brancos. Estava com um tom choroso em sua voz.

— Eu acho que é por isso que chamamos de sacrifício — Disse a fada rainha da terra em um tom baixo. Estava tão triste quanto os demais ali. Não pode fazer nada a não ser observar a dupla de heróis cair em lágrimas.

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