terça-feira, 22 de julho de 2014

Capitulo 05 : Ilusões

Abriu os olhos e pôde apenas observar a escuridão acima de sua cabeça. Estava tonta, como se estivesse passado uma noite inteira embriagada ou pior, mas não conseguia raciocinar o que vira direito.

Levanta, Bela Adormecida! — Dizia uma voz que ela já conhecia. Anala cutucava seu ombro com bastante força que chegara até a doer.

Pare, está me machucando — Respondeu, tentando levantar-se, mas estava visivelmente cansada. Fraca, pra ser mais específico.

Onde estamos? O que aconteceu? — Perguntou ao levantar-se. Enxugou os olhos e pode ver algumas barras de ferro à sua frente. Ao redor, o que parecia ser uma caverna, totalmente escura. Estava presa.
Capturaram-nos. Prometeram nos soltar, mas até agora nada! – Respondeu Anala, encostando-se na parede de rochas. Cruzou os braços e continuou a falar, indignada com a situação que estava — Se aquele foguinho acha que as coisas vão continuar desse jeito, está muito enganado! Eu vou apagar aquela tocha na primeira oportunidade que tiver! – Resmungava. A voz de sua companheira estava cada vez se tornando mais baixa, o que era estranho. Não conseguia raciocinar direito e apenas viu tudo escurecer novamente. Desmaiou.

Horas antes...

São flâmines! — Disse olhando assustada para Anala. Estava incrédula, como se não bastasse ter visto uma fada ceifeira, agora via um dos seres mais temidos pelas fadas – Não acredito que você precisou apelar para tanto! — Disse observando o rapaz com um sorriso no rosto.

Esses a gente pode afirmar que possuem um fogo no rabo! — Disse Anala. Sarcástica como sempre. Sabia do perigo que corria, mas não podia perder a oportunidade.

Não é hora para piadas — Respondeu Alpha com os olhos trocando de direções.

Sua amiga está certa — Disse o rapaz, cercado por seu exército de flâmines — Como eu prefiro uma briga justa, eu posso dar a vocês uma vantagem de... — Parou para pensar por alguns segundos — Um ou dois minutos antes de soltar todos eles em cima de vocês — Finalizou com seu sorriso charmoso acompanhado de um par de brilhos em seus olhos.

Não é uma má idéia até! — Disse Anala em tom baixo, estava visivelmente em pânico com os seres que estavam em sua frente.

Não — Alpha se impôs — Não estamos aqui para brigar, seja-lá-qual-for-o-seu-nome. Isso aqui é sério, nós precisamos falar com as rainhas. É importante.

1 minuto e 38 segundos restando — Disse ele ignorando a atitude de Alpha.

Nós precisamos ir! — Anala agora estava praticamente puxando Alpha, que se mantia firme como uma pedra no local.

Eu vim aqui para falar com as fadas rainhas e é isso que vou fazer. Se você quiser ir, então vá — Disse para a fada de tons azuis. Observou o rapaz olhar para o céu como se estivesse contando o tempo e então deu mais alguns passos a frente, encarando-o — Pode vir todo o seu exército de fogo, eu sou a água. Eu não temo você – Respondeu firme. Quando olhou para trás, Anala já estava longe, correndo para lugares que ela mesma desconhecia.

Eu achava você mais inteligente que a azulzinha... Erro meu — Disse com seu sorriso sarcástico no rosto — Ataquem! — E sentou-se para observar a luta que iria iniciar.

Campo de proteção! — Alpha disse em voz alta. Colocou suas mãos na terra quente e em sua volta apareceu um grande campo de força de água que fluía lentamente. Os animais que estavam em posição de ataque esconderam seus rostos medonhos com suas asas peludas e, em seguida, deram passos para trás, assustados com a água. Liberaram suas asas e então se puseram em posição de vôo. Alpha observou-os saírem do chão e sobrevoarem sobre sua cabeça, mais precisamente, sobre a água que a protegia. Viu e pode sentir também, as rajadas de fogo que saíam de suas terríveis bocas. Sabiam que assim, enfraqueceriam a fada e estava funcionando.

Droga, Anala, onde você se meteu? — Pensou desesperada, sabia que se Anala estivesse ao seu lado poderiam formar um campo mais poderoso, que embora, só aumentaria o tempo delas ali e as enfraqueceria do mesmo jeito.

Olhou para trás e viu uma luta começar. Estava nervosa e queria fazer o caminho de volta, mas sabia que suas chances seriam mínimas. Encontrou uma escadaria e viu que aquela era sua única opção antes dos flâmines conseguirem localizá-la. Subiu os degraus da escada lentamente. Não queria fazer muito barulho, pois poderia despertar outra criatura de fogo e isso certamente não melhoraria a situação.

Droga! — Disse ao tropeçar em um dos degraus. Anala estava tão nervosa que nem percebeu que gritou alto suficiente para alguém próximo escutar. Parou por alguns segundos para sentir o local e percebeu que tudo continuava do mesmo jeito. Respirou aliviada e seguiu o caminho.

Encontrou uma porta e como não teve opção entrou. Imediatamente tampou o nariz, o cheiro daquele lugar era terrível comparado aos belos campos em que ela frequentava. Era um cheiro mais pesado, como se tivesse ocorrido um incêndio no passado e toda sua fumaça estivesse sendo mantida naquele lugar. Sem contar a sensação de asfixiação que sentia. Parou para observar o local com atenção e viu que era algo parecido com um santuário. Observou vários flâmines em formas pequenas, de esculturas, ao lado do que pareciam ser dois tronos. Certamente estava em um lugar que não deveria estar. Não teve muito tempo para analisar o local, pois logo ouviu passos que seguiram de vozes.

— Faz isso, faz aquilo! Ah me poupe! Até parece que sou empregada de alguém! — Entrou uma voz reclamando em voz alta. Anala não pode ver quem era, pois estava tentando esconder-se, mas notou que era uma voz feminina. Quando finalmente encontrou um lugar para ficar, porém, bem estreito, mas suficiente para ela observar uma menina de cabelos loiros e cacheados, que colocava umas taças de prata em uma bandeja.

— Você disse algo? — Outra voz surgiu atrás dela, Anala pode ver agora outra menina de cabelos escuros se aproximar da outra. Incomodada com o local, Anala resolveu mudar-se. Observou um espaço pouco maior por perto e certificou-se que as duas outras meninas estavam discutindo por tempo suficiente para ela se mudar. Andou abaixada, quase se rastejando, para embaixo de uma mesa, mas acabou esbarrando em algo por causa do seu nervosismo.

— Ouviu isso? — Perguntou a garota dos cabelos escuros. Ela deu alguns passos a frente enquanto Anala se xingava por pensamento.

— O que foi? Ela acordou? Foi isso? — Perguntou a garota de cabelos cacheados, totalmente distraída com a situação.

— Não — Deu alguns passos a frente, indo em direção a mesa em que Anala estava. A garota de cabelos azuis estava bastante nervosa, seu coração batia forte – Eu acho que temos companhia — Disse a mesma empurrando a mesa e revelando Anala.

— Acha mesmo que vai aguentar muito tempo aí? — Perguntava enquanto lixava suas unhas. Estava rindo de toda a situação, embora fosse entediante ver apenas seus bichinhos voarem um campo de água, mas valia a pena pelo pânico que Alpha sentia.

— Tempo suficiente — Disse blefando. A água fluía cada vez menos e Alpha já não agüentava mais, sabia que a qualquer momento o campo de proteção cairia e ela seria atacada por vários seres que cuspiriam brasas de fogo em seu rosto. Só lhe restava rezar para que a situação melhorasse.

O rapaz levantou-se de sua cadeira e parou em frente ao campo de proteção, que começou a se desfazer lentamente. Observava Alpha sofrer e se alimentava daquilo, poderia ficar ali o dia todo vendo a situação se repetir que só lhe dava mais poder.

— Vamos parando o show! — Disse uma voz que surgiu por trás do loiro. Ele se virou e observou Anala sendo arrastada pelas duas garotas que estavam no santuário.

— A algema de fogo é realmente necessária? — Anala perguntou com raiva, suas mãos não estavam queimando literalmente, mas algo naquelas algemas dava essa sensação.

— Focus sempre desesperado! Pare de se aproveitar da garota — Disse a morena, com raiva da cena que via.

— Qual é, Trish, está divertido! — Disse rindo. Trish, incomodada com a situação, colocou suas mãos ao chão e tudo começou a balançar como se estivesse acontecendo um terremoto naquele momento.
— Está divertido pra você agora? — Perguntou ela. Certamente estava flertando com ele e vice-versa. Para Anala, uma cena totalmente idiota.

— O que está acontecendo? — Anala perguntou, cortando todo o clima. Mas não precisou de uma resposta em palavras, pois logo viu os flâmines sumirem junto do campo de proteção feito por Alpha. A fada desmaiou em seguida.

— O que vocês fizeram? — Perguntou Anala, preocupada.

— Focus fez você e sua amiga de palhaças. Flâmines nem existem, são apenas mitos — Disse como se fosse a coisa mais simples do mundo, deixando a cabeça de Anala mais perturbada ainda — Focus é uma salamandra, um ser de fogo que emite calor de forma tão demasiada que consegue causar ilusão em suas vítimas, fazendo-as verem tudo que ele quiser ver.

— Oops — Disse o rapaz rindo. Apenas levou um esbarro que Trish lhe deu. A menina foi até Alpha e a examinou — Ela está bem, só está fraca. Não deveria ter gastado toda sua força com ele – Disse.

— Ok, tudo terminou em bolo, podem me soltar agora? — Pediu Anala com ignorância, ainda tentando digerir toda a situação.

— Flânis. Irmã do Focus. Outra salamandra. Não tem algema, garota! — Disse. A garota loira de cabelos cacheados sorriu, deixando Anala completamente brava.

— Bem, cachinhos dourados, eu tenho algo bem real para você – Disse se preparando para atacá-la.

— Podemos iniciar uma briga ou ver como ajudamos sua amiga, mas posso garantir que você não vai se dar muito bem contra uma ilusionista, experiência própria — Disse a morena, carregando Alpha em seus braços.
— Ok. Vamos fazer da sua forma — Cedeu.

Ouviu alguns chiados por trás de sua cabeça, mas estava preocupada demais com Alpha para dar atenção. Quando eles se intensificaram, pode finalmente perceber quem havia chegado para sua surpresa. Dirigiu-se até as barras da caverna e viu a luz no fim de seu túnel, em meio a tanta escuridão.

— Não imaginaria que um dia iria dizer isto. Mas estou feliz por te ver! — Disse observando o rosto do elfo do lado de fora das barras.

— Não achou que iria se livrar tão rápido de mim, achou? — Ele disse com um sorriso sarcástico no rosto.

— O que você está fazendo aqui? Achei que tinha ido embora, voltado pra casa! – Indagou.

— Depois eu explico, agora temos que bolar um plano para tirar vocês daí – Disse preocupado.

— Viemos falar com as rainhas, mas tem um menino tão chato quanto você nos mantendo prisioneiras aqui... — Parou por alguns segundos e pensou consigo – Você é ao menos real?

— O quê? — Dioniso não entendeu nada.

— Estou cansada das suas brincadeiras, Focus, tenho coisa melhor pra fazer nessa caverna... Medonha, escura e apertada! — E virou-se de costas para cuidar de Alpha novamente. Dioniso continuou confuso, ouviu alguns barulhos e resolveu esconder-se.

— Voltei! — Disse Trish, trazendo consigo uma cesta de alimentos para as garotas. Ela apertou um botão e as grades se abriram. Ela entrou na caverna e colocou no chão.

— Ela está melhor? — Disse se aproximando, estava visivelmente preocupada com Alpha, embora não pudesse fazer muito para tirá-la daquela situação precária.

— Ela acordou e desmaiou novamente, está muito fraca. Ela tem usado sua magia durante toda a nossa viagem... E a briga com o Focus não ajudou muito — Respondeu.

— Bem, já já é hora da rainha acordar, então ela vai finalmente poder ajudá-la e... — Foi surpreendida repentinamente por uma pancada na cabeça. Era Dioniso com um porrete de madeira que apareceu por trás apunhalando-a.

— O que você fez? – Perguntou surpresa — Oh... Você é real — Estava mais surpresa ainda.
— Vamos, temos que dar o fora daqui — Disse puxando-a pelo braço.

— Não, essa garota está nos ajudando — Respondeu com raiva – Estava até você desmaiá-la.

— Mantendo vocês presas? — Indagou, já quase perdendo a paciência. Anala assentiu e o elfo pegou Alpha no colo. Eles saíram da caverna e apertaram o botão, aprisionando Trish lá dentro.

— Quem era ela afinal de contas? — Perguntou o elfo, sussurrando.

— Uma fada da terra. Ela é ajudante da Fada Rainha. Ela e mais uma dupla de salamandras vigiam o reino na parte do dia.

— Ah... Agora entendi o que você quis dizer com eu ser real ou não — Disse ele.

— Enfim, qual a sua grande ideia para sairmos daqui? — Questionou.

— Tem uma passagem por ali — Disse apontando a direção — Podemos ir e depois encontrar outro caminho para a saída.

— Aonde vocês pensam que vão? — Disse uma voz grave atrás deles. Os dois se viraram e viram uma mulher de cabelos escuros que estava penteado como rabo de cavalo. Suas roupas eram negras com detalhes espessos, dando a sensação de peso. Era como se fosse uma roupa feita de rochas, que visivelmente seria difícil de ser carregada. Não para aquela mulher. Anala estava certa de que aquela era a Fada Rainha da Terra e agora que a vira, não sairia dali sem respostas.

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